Distúrbios respiratórios do sono e função cognitiva

einstein

Thiago Sossai

Residente em geriatria no Hospital Israelita Albert Einstein

Luciana Machado Paschoal

Médica geriatra e preceptora da residência de geriatria no Hospital Israelita Albert Einstein

Thais Ioshimoto

Médica geriatra e supervisora da residência de geriatria no Hospital Israelita Albert Einstein

Tema: Associação dos distúrbios respiratórios do sono (DRS) com função cognitiva e risco de comprometimento cognitivo

Estudo: “Association of Sleep-Disordered Breathing With Cognitive Function and Risk of Cognitive Impairment. A Systematic Review Meta-analysis”.
Fonte: JAMA Neurol. doi:10.1001/jamaneurol.2017.2180
Desenho do estudo:  Metanálise de estudos prospectivos e transversais. Foram selecionados estudos publicados até janeiro de 2017 que avaliaram a associação de distúrbios respiratórios do sono (DRS) e risco de comprometimento cognitivo. Os critérios de inclusão para os estudos foram: 1) serem artigos originais publicados em revistas especializadas; 2) serem estudos transversais ou prospectivos; 3) número de participantes maior que 200 e idade média ≥40 anos; 4) DRS foi determinado pelo índice de apneia-hipopneia (IAH) ou diagnóstico clínico pela Classificação Internacional de Doenças (CID-9); 5) o desfecho Doença de Alzheimer, risco de demência ou comprometimento cognitivo foi baseado em testes padrões ou no diagnóstico clínico de déficit cognitivo. Os domínios avaliados foram: função cognitiva global, memória remota (exceto se o estudo somente avaliou memória imediata) e função executiva. Estudos foram excluídos se eram: 1) relatos de caso, resumos, revisões ou metanálises; 2) caso-controles; 3) auto relato de DRS; 4) conduzidos em populações clínicas ou; 5) análise da prevalência de DRS em vez de avaliar o DRS como um fator de risco.
Resultados: Foram selecionados 14 estudos para a metanálise com 4.288.419 participantes de 5 diferentes países.
DRS e risco de déficit cognitivo: 6 estudos prospectivos mostraram que pacientes com DRS são 26% mais propensos a desenvolver comprometimento cognitivo, definido por declínio cognitivo ou risco de demência, comparados com pacientes sem DRS (razão de risco, 1,26; 95% CI, 1,05-1,50).
DRS e domínios cognitivos: análise conjunta de 6 estudos transversais mostraram que os DRS não estão associados a piora da cognição global ou da memória.
Função executiva: a análise conjunta de 7 estudos transversais revelaram que pacientes com DRS tiveram pior desempenho na função executiva comparado com indivíduos normais (diferença média padrão, -0,05; IC 95%, -0,09 para 0,00).
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Conclusão
Esta metanálise revela que os pacientes portadores de DRS são 26% mais propensos a desenvolver déficit cognitivo. Devido à alta prevalência de DRS e déficit cognitivo, este achado pode ser considerado de grande relevância clínica, uma vez que o DRS pode ser um importante fator de risco modificável para demência e seu diagnóstico pode ajudar a prever o risco de comprometimento cognitivo. Sendo assim, esses pacientes devem ter a cognição monitorada. Entretanto, os mecanismos envolvidos ainda são incertos. Portanto, tornam-se necessários novos estudos para explorar essas relações e avaliar se o tratamento dos DRS poderia beneficiar a cognição.