Para muitos idosos, a terceira idade é tempo de descanso. Para outros, uma oportunidade de continuar crescendo, se reinventando, vivendo e aprendendo.
Com o intuito de ajudar a promover a inserção do idoso no contexto acadêmico e social, foram criadas as universidades abertas à terceira idade (UATIs, UnATIs ou UNTIs). Essas universidades fazem parte de programas voltados para idosos e visam proporcionar um aprendizado contínuo e oportunidades de socialização para a pessoa com mais de 60 anos.
“As universidades da terceira idade seguem o modelo de educação não-formal, ou seja, aquela que pode ser definida como qualquer tentativa educacional organizada e sistemática que, normalmente, se realiza fora dos quadros do sistema formal de ensino. E elas não estão vinculadas aos órgãos governamentais para receber investimentos”, explica a coordenadora da UnATI da Escola de Artes e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (EACH USP) e pesquisadora na área, Meire Cachioni.
A iniciativa começou na França no início da década de 1970, quando o professor Pierre Vellas, da Universidade de Toulouse, percebeu que oportunidades de educação para idosos quase não existiam. A partir de seus esforços, a instituição passou a permitir que idosos tivessem acesso ao espaço e ofereceu-lhes atividades intelectuais, físicas, culturais, artísticas e de lazer.
No Brasil, as UATIs nasceram em meados da década de 1990, como parte da Política Nacional do Idoso, que foi criada para garantir os direitos sociais dessa população. Hoje já existem mais de 200 programas em todo o país, promovidos por instituições públicas e privadas. Milhares de idosos participam de atividades intelectuais e culturais que ajudam no envelhecimento ativo e bem-sucedido.
“Os idosos não querem estar parados. Eles querem se sentir úteis. Eles já têm consciência de que são idosos, por isso procuramos dosar as aulas sobre a questão da terceira idade com outras que não trazem doença, preocupação ou cuidado. Ficamos atentos em sempre dar esse contraponto”, esclarece o professor e artista plástico Renato Gonda, sobre a dinâmica das aulas na maioria dessas universidades.
Exemplo bem-sucedido
Um dos programas mais bem-sucedidos na cidade de São Paulo é a UATI da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que oferece cursos livres anuais, que cobrem desde informações básicas sobre saúde até conhecimentos gerais em disciplinas como história, arte, inglês, língua portuguesa, entre outros.
“Oferecemos atividades voltadas para a realidade da terceira idade, ou seja, para que os idosos possam obter conhecimento sobre o que está acontecendo, como por exemplo, o que se pode fazer com a aposentadoria chegando, o que se está perdendo ou ganhando. Além disso, há também uma grande busca pela socialização com pessoas na mesma situação”, explica Cláudia Ajzen, coordenadora da UATI Unifesp no Campus São Paulo.
Além do conhecimento adquirido nas aulas, Dina Machado e Clarete Castralli, alunas da UATI Unifesp, destacam a importância dos amigos que fizeram durante os cursos. “As amizades aqui são maravilhosas, a gente vive marcando encontros. Acho que o objetivo da maioria dos alunos também é encontrar outras pessoas ou bater um papo. Minha rotina é na rua, eu não paro em casa!”, conta Clarete ao lado da amiga, enquanto combinam de ir ao teatro.
As salas variam de 30 a 35 alunos, com uma média de idade de 65 anos. Hoje, 90% dos participantes são mulheres. Luiz Carlos Magosse, de 60 anos, conta que não vê muitos homens nos cursos que frequenta. “Eu não sei se o homem pensa que se aposentou, não tem mais o que fazer. Eu gosto de procurar alternativas. E as atividades são para ambos os sexos”, diz.
Uma das dificuldades enfrentadas pelos professores das UATIs é justamente a heterogeneidade das turmas. Como em cada sala há alunos de todos os níveis de socioeconômicos e culturais, às vezes é preciso que haja uma adaptação. “Dependendo do vocabulário que você usa, alguns alunos terão dificuldade para entender”, esclarece o professor Gerson Correra, da UATI Unifesp.
Segundo ele, trabalhar com alunos que possuem problemas físicos ou alguma doença também pode ser complicado, porque eles acabam perdendo muitas aulas e acabam tendo dificuldade de acompanhar o restante do curso.
Mas a maturidade dos idosos, que fica claro por seu envolvimento e participação nas atividades, é o que se destaca nessas universidades. Para Correra, que também dá aulas para jovens, a diferença entre os alunos é clara: “A maturidade vem com a sabedoria. Na adolescência, às vezes é muito mais legal você fugir da aula e ir para o bar com seus amigos. Na terceira idade eles querem ficar, querem aprender ao máximo, querem aproveitar. Essa consciência do aprendizado é muito mais forte”, completa.
Outras informações
Para conhecer melhor algumas universidades que têm programas para a terceira idade no estado de São Paulo, acesse os sites:
Universidade Anhembi Morumbi
Universidade de São Paulo
Universidade do Sagrado Coração
Universidade Estadual de São Paulo
Universidade Federal de São Paulo
Universidade Fundação de Ensino Octávio Bastos
Universidade Municipal de São Caetano do Sul
Fonte: G1
Por Fernanda Figueiredo
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