No último sábado 24 de setembro aconteceu, com apoio da SBGG-SP, o 1⁰ Simpri – Simpósio Paulista de Clínicas e Residenciais para Idosos com o tema “a prática geriátrica e gerontológica”, realizado pelos Residenciais Toniolo.
Na abertura, o geriatra João Toniolo Neto propôs aos participantes que cada um se imaginasse aos 85 anos. A maioria se projetou viajando, desfrutando férias e com boa saúde. “Infelizmente, provavelmente não será assim”, rebateu o médico, apresentando dados a respeito do envelhecimento da população e da incidência de doenças crônicas, que predispõem à perda cognitiva e à perda de independência em maior ou menor grau.
Toniolo Neto afirmou que o país ainda não está preparado para enfrentar o envelhecimento populacional, ainda que muito tenha evoluído desde a década de 1980. “Um simpósio desse não seria viável naquela época”, afirmou. No entanto, conforme apresentou ele, ainda temos muitos desafios a serem cumpridos. “A discussão sobre a previdência neste momento é um exemplo claro de que não temos preparo para o envelhecimento, para cuidar da população”, disse. “Defendemos que os idosos fiquem em casa sempre que possível, mas as famílias são cada vez menores e isso acaba sendo inviável. E, por outro lado, não temos instituições para todo mundo”.
O médico ainda pontuou a respeito das instituições de perfis variados voltadas para o cuidado ao idoso nos Estados Unidos – dos 2 milhões de leitos autorizados para idosos, 48% são em instituições independente living (residenciais para idosos independentes), 41% assisted living (para idosos que necessitam de algum tipo de assistência) e 11% memory care (específicos para pessoas com Alzheimer e outras demências).
O Simpósio seguiu com uma série de palestras e uma interessante roda de conversa com o tema “Preditores de internação – do ideal ao real”, da qual fez parte, entre outros membros, a geriatra e diretora da SBGG-SP Maria Cristina Guerra Passarelli. “O momento da institucionalização depende do caso e da família. De forma geral, temos observado na prática que a internação de pacientes que só têm filhos do sexo masculino é mais frequente do que de quem tem filhas, porque a mulher assume mais para si os cuidados com os pais”, contou a médica.
Outro tema abordado foi a desospitalização, que teve prosseguimento no período da tarde com o colóquio realizado pela enfermeira Patrícia Silveira Rodrigues, da Gerência de Pacientes Crônicos, e da geriatra Priscila Gaeta Baptistão, do Residencial Toniolo.
O encerramento foi com a conferência da geriatra e paliativista Ana Beatriz Di Tommaso, vice-presidente da SBGG-SP, sobre o “controle rigoroso de sintomas e cuidados de conforto”. A médica falou de forma tocante para os profissionais de saúde a respeito do que é paliar – do latim “proteger” – e de como a busca contínua por conhecimento em relação a doenças e sintomas é extremamente benéfico para o conforto do paciente. “Devemos conhecer a fundo as doenças que fazem parte da nossa lida profissional para sabermos o que tem cura ou não, o que é sinal de finitude e em que fase está aquele paciente”, orientou. “É dessa maneira que poderemos propiciar alívio dos sintomas, afirmar a vida e considerar a morte um processo normal, oferecendo um sistema de suporte integral a esse paciente e sua família”.
Desospitalização – um grande desafio
A enfermeira Patrícia Silveira Rodrigues apresentou os principais desafios e dificuldades que enfrenta na sua prática diária na Gerência de Pacientes Crônicos no Hospital Albert Einstein. Esse setor, que conta com duas enfermeiras, duas assistentes sociais e dois médicos, atua na educação e sensibilização de toda a cadeia que envolve a longa internação de um paciente crônico, desde o próprio paciente, a família, equipe de profissionais e operadoras de saúde.
A criação do serviço aconteceu em 2005, diante da dificuldade enfrentada pelo hospital para que algumas famílias aceitem o paciente idoso após a alta. “São famílias reduzidas, às vezes um único filho que alega não ter condições de cuidar do idoso em casa e também não poder pagar uma instituição de longa permanência”, explica. “Por outro lado, temos as operadoras de saúde que não aceitam pagar essas instituições para o idoso porque não consta no contrato, mas arcam com os custos hospitalares que são muito mais altos”.
Patrícia reforçou ainda que, embora os familiares acreditem que o idoso está mais bem cuidado no hospital do que em casa, é preciso conscientizá-los do risco de infecção hospitalar e outras complicações que a longa internação pode ocasionar. “Alguns médicos, embora concordem que seja hora de dar alta, não a efetivam por pressão da família”.
Nesse sentido, Patrícia e seu grupo têm atuado para conscientizar médicos e familiares, bem como ajudado as famílias a encontrar instituições de longa permanência para onde o idoso possa ir ao menos para receber cuidados intermediários no período imediatamente após a alta, evitando a re-hospitalização, comum pela falta de cuidados adequados de transição.
Na sequência, a geriatra Priscila Gaeta Baptistão, do Residencial Toniolo, falou para profissionais de ILPIs sobre os cuidados nos primeiros 15 dias após a alta hospitalar e apresentou dados do Healthcare Costs and Utilization Project 2007, realizado por uma agência norte-americana de pesquisa em cuidados de saúde e qualidade de vida. Segundo o estudo, nada menos que ¾ dos pacientes idosos hospitalizados têm condições de voltar para casa pós alta. “O problema é encontrar o local e serviço adequados para o ¼ restante”, disse a médica.
Para escolha do local, fatores como status cognitivo do paciente, funcionalidade, suporte e disponibilidade familiar para cuidar, infraestrutura domiciliar, acesso a medicações e suporte médico têm influência direta.
Escolhida a instituição adequada, a equipe de saúde do local deve começar a atuar na pré-alta, realizando visita médica para identificar as principais demandas e histórico médico, assistência e equipamentos necessários. “Na chegada do idoso à instituição, é necessário que paciente e familiares passem por uma ambientação, sintam-se acolhidos e conheçam a estrutura e funcionários”, explicou. Nesse momento, ela também recomenda que seja aplicada a AGA (avaliação geriátrica ampla) como ferramenta de anamnese.
A geriatra alertou ainda aos médicos sobre a necessidade de mudar com muita precaução as medicações do idoso no período recente à alta. “Mais de 25% das readmissões hospitalares acontece por inadequação medicamentosa”, explicou. Por esse motivo, a profissional recomenda que sejam discutidas com os médicos da equipe hospitalar quais medicações devem ter continuidade pós-alta, quais serão suspensas e incluídas. “É desejável que a prescrição médica do indivíduo na ILPI seja mudada o menos possível em relação à do hospital nessa fase de adaptação”.
Homenagem
O Simpri realizou ainda uma homenagem ao psiquiatra e geriatra Cássio Bottino, que faleceu na semana passada.
Leia mais sobre o professor Bottino aqui.
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