Destaques do Congresso Americano de Geriatria de 2016

A Reunião Anual Científica da Sociedade Americana de Geriatria aconteceu entre os dias 18 e 21 de maio de 2016, em Long Beach, na Califórnia, e contou com a participação de mais de 2.700 profissionais da área de Geriatria e Gerontologia. Foram abordados diferentes aspectos relacionados à especialidade, como questões clínicas emergentes, panorama atual da pesquisa, educação, políticas de saúde e prestação de cuidados aos idosos.
Picture1A palestra de abertura abordou os motivos pelos quais os profissionais escolhem a geriatria como especialidade. Num modelo interativo entre palestrante e ouvintes foi construída uma figura com características marcantes da prática clínica dessa especialidade. Dentre elas, as mais motivadoras apontadas pelos profissionais foram: paixão pela profissão, o seu caráter recompensador, a relevância desse trabalho para a sociedade (diante do intenso envelhecimento populacional), o cuidado centrado no paciente e os desafios inerentes à especialidade.
Uma das palestras de mais destaque durante o evento abordou a importância do papel dos cuidadores no tratamento dos pacientes demenciados. Nenhum outro aspecto terapêutico atual mostra-se tão benéfico a esses pacientes quanto a boa formação, o apoio e o empoderamento de seus cuidadores. Segundo o geriatra Christopher M. Callahan, diretor do Indiana University Center for Aging Research, o número de pacientes com demência irá dobrar nas próximas décadas e o avanço tecnológico irá nos permitir mantê-los no domicílio por mais tempo, porém, a maior parte dos cuidados continuará sendo proporcionado pelos familiares. Medidas como aconselhamento, reuniões para suporte em grupo, manuais de orientação de cuidados e seguimento telefônico podem ajudar na organização desses cuidados. Callahan alertou os profissionais para discutirem e encontrarem maneiras capazes de otimizar os reais custos com a doença. Caso contrário, teremos um empobrecimento progressivo das famílias e, consequentemente, da sociedade.
Outros temas que receberam atenção durante o encontro:

  • Diante do aumento da polifarmácia entre os idosos, estudos apontam para o benefício da “diminuição da prescrição médica” em determinadas situações clínicas, principalmente nos pacientes com prejuízo cognitivo (uso de medicamentos com efeito anticolinérgico, uso exagerado de drogas psicotrópicas e uso de remédios “anti-demência” para o transtorno cognitivo leve). Além disso, foram reforçados os medicamentos potencialmente inapropriados para os idosos através da atualização dos critérios de Beers de 2015.

 

  • As metas ideais para controle da pressão arterial em idosos, como resultado da repercussão recente do estudo SPRINT (N Engl J Med 2015; 373:2103-2116) que mostrou benefício de uma meta mais agressiva de pressão arterial (pressão sistólica <120 mmHg versus <140 mmHg) para idosos com alto risco cardiovascular, sem diabetes ou história pregressa de acidente vascular cerebral. Lembrando que vários critérios de exclusão usados nesse estudo prejudicam sobremaneira a generalização dos seus resultados para a população habitualmente atendida pelos geriatras.

 

  • Os estudos mais recentes com vitamina D mostram a necessidade de uma postura mais conservadora. Reposições com doses elevadas dessa vitamina não preveniram ocorrência futura de quedas em idosos de risco, ao contrário do que se tem constatado com a prática de atividade física.

 

  • Cautela maior em relação ao uso abusivo de antibióticos. Atualmente existem evidências do uso inapropriado, desnecessário e prolongado desses medicamentos. Apesar de benéficos, os problemas relacionados aos antibióticos são cada vez mais comuns: diarreia, polifarmácia, reações adversas e resistência terapêutica. Idosos institucionalizados foram classificados como usuários frequentes de antibióticos, apresentando maior número de complicações clínicas.

 

  • Na ortogeriatria, foram abordados os benefícios da gestão compartilhada de cuidados aos pacientes com fratura de fêmur. A atuação da equipe de geriatria e gerontologia em conjunto com o ortopedista tem mostrado melhora em vários aspectos da vida do paciente, como: funcionalidade, cognição, qualidade de vida e alta precoce. Os resultados sugerem que a fratura de fêmur não deve ser abordada apenas como um problema cirúrgico, mas como uma síndrome geriátrica.

 
Os profissionais brasileiros também marcaram presença no evento. Na sessão de pôsteres, Thiago Junqueira Avelino da Silva, geriatra membro da SBGG-SP, foi premiado com o trabalho intitulado “Efeitos prognósticos dos subtipos de delirium em idosos hospitalizados: um estudo de coorte prospectivo”.

Márlon Juliano Romero Aliberti

Geriatra e membro da SBGG-SP