O tratamento multiprofissional de pacientes com doença de Alzheimer foi o principal assunto tratado por Glenda Dias, gerontóloga e gestora do Centro de Estimulação do Idoso do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, em palestra da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) no Colégio Marista Arquidiocesano na reunião do mês de junho.
A ABRAz é uma associação sem fins lucrativos que difunde conhecimento sobre sintomas, tratamento e enfrentamento de Alzheimer. Ela oferece apoio social, emocional e informativo a familiares, através de grupos de apoio, reuniões e palestras espalhados por todo o Brasil.
Para contextualizar os 35 familiares de pacientes presentes no encontro, a gerontóloga introduziu o tema com uma breve explicação sobre as três fases da doença.
“Na fase leve, a memória começa a falhar, mas as outras funções do corpo ainda estão preservadas. Na moderada, a pessoa começa a falhar no dia a dia. Um exemplo comum é se perder na feira ou deixar de ir à igreja. Na fase grave, o idoso já está mais debilitado e não tem muito controle para urinar, por exemplo. A fala também fica mais debilitada”, explicou. “Por isso é necessário um conjunto de cuidados multiprofissional. Em algum momento, o paciente vai precisar de todos eles.”
Para a gerontóloga, essa abordagem multiprofissional, que envolve áreas como fisioterapia, terapia ocupacional e psicologia, oferece recursos e estratégias que podem facilitar a vida do idoso com doença de Alzheimer e, como consequência, aliviar o estresse de quem cuida desse paciente.
Um dos recursos citados por Glenda são jogos lúdicos. “Um que eu gosto muito é um quebra-cabeça individual, que se chama Cilada. Eles adoram e requer pouco raciocínio. Além disso, não é infantil. Temos que tomar cuidado com isso, porque eles não são crianças”, sugeriu.
Outra dica para facilitar a rotina do idoso diz respeito à organização, como separar as roupas que ele vai usar. “Muitas pessoas colocam um sapato diferente em cada pé, por exemplo. Nesse caso é bom colocar a roupa separada e tirar de vista coisas que o distraem. É como se você tivesse que fazer um condicionamento”, afirmou.
As dificuldades impostas pela doença acabam tendo reflexo também na rotina do cuidador, em forma de cansaço e estresse. Por isso, muitas vezes o cuidador acaba assumindo funções que o paciente ainda tem condições de desempenhar.
“Existem atividades que o cuidador pode estimular o paciente a fazer. É muito melhor fazer com ele do que por ele. Um exemplo clássico é o banho: você sabe quanto é difícil, por isso quer poupar tempo e dar banho na pessoa. Mas muitas vezes ela consegue tomar banho sozinha, mesmo que o faça devagar”, afirmou Glenda.
“Às vezes o cuidador precisar fazer outras tarefas e quer terminar tudo rápido. Isso prejudica o idoso, porque se a pessoa perde a capacidade de fazer algo, ela dificilmente vai recuperá-la”, enfatizou.
Durante a exposição, um familiar comentou que sua mãe muitas vezes que “voltar para casa”, embora já esteja em casa. Nesse caso, a gerontóloga aconselhou que ele desse uma volta pelo quarteirão com ela e voltasse para o mesmo lugar. “Isso ajuda a melhorar a ansiedade do paciente”, explicou.
Atividades físicas também podem ajudar no controle da ansiedade, mas é preciso ficar atento às coisas que o paciente gosta.
“Sabemos que é difícil, porque a maioria dos pacientes com Alzheimer fica mais apática, não quer fazer mais nada. Mas precisamos estimular com atividades que sejam prazerosas para ele, de acordo com seu histórico de vida. Assim evitamos a depressão, a apatia e ansiedade, que são muito presentes na demência”, destacou.
Em muitos casos, porém, a situação evolui de tal maneira que os recursos deixam de ser eficazes, dificultando a convivência em casa entre paciente e cuidador. Nessas circunstâncias, a institucionalização pode vir a ser o melhor caminho.
Alice*, uma das participantes, contou sobre a decisão de colocar sua mãe numa casa de repouso. “Minha mãe sempre foi muito ativa. Ela era enfermeira e tinha três empregos. Quando teve Alzheimer, contratamos cuidadores, mas ela batia neles, brigava”, lembrou.
“Vim até aqui porque queria me certificar de que tinha tomado a decisão certa. Não tinha mais jeito, eu já não conseguia mais trabalhar. Ela vivia dentro da nossa casa, mas pensava que estava trabalhando num hospital e falando que queria ir embora”, disse. “Acabei por colocá-la num residencial com uma estrutura maravilhosa. Ela está sendo muito bem assistida e muito feliz.”
*nome fictício
Por Fernanda Figueiredo
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