Geriatria sem pressa para respeitar o ritmo do paciente

Screen Shot 2017-12-19 at 14.49.05A slow medicine – termo que foi traduzido em português por medicina sem pressa – é uma filosofia com 10 princípios: tempo, individualização, autocuidado e autonomia, conceito positivo de saúde, prevenção, qualidade de vida, medicina integrativa, segurança em primeiro lugar, paixão e compaixão e uso parcimonioso de tecnologia. E, embora possa ser aplicada a qualquer especialidade médica, tem tudo a ver com a geriatria.
Não é de se estranhar, por isso, que o precursor desse movimento no Brasil seja um geriatra. José Carlos Aquino de Campos Velho conheceu a slow medicine em um congresso internacional de geriatria nos Estados Unidos, em 2010, quando teve a oportunidade ouvir o assunto abordado por Dennis McCullough, autor de diversos livros sobre o tema.
“Os idosos necessitam de desaceleração para qualquer processo de tomada de decisão que não seja, claro, uma situação de urgência”, explica o médico. “São pacientes mais lentos para entender e para avaliar adequadamente as proposições diagnóstica e terapêutica. É preciso respeitar esse tempo.”
Mais do que dedicar tempo ao paciente idoso, a slow medicine apregoa que os profissionais da saúde tenham um olhar integrado que envolva também a família, amigos e todas as pessoas que convivem com o paciente, o chamado círculo de cuidado (adaptado do inglês circle of concern).  “É uma relação que se constrói com o tempo, sabendo os valores e desejos do paciente e de seu círculo de relações”, diz Campos Velho.
Tecnologia e polifarmácia
O movimento da slow medicine ainda critica o uso indiscriminado da tecnologia e dos exames e alerta para os perigos da polifarmácia.
“Vivemos a exuberância da tecnologia na medicina no final do século XX, quando se pensava que saberíamos tudo pelos exames de imagem”, descreve o médico. “Na slow medicine, a tecnologia é auxiliar”. Campos Velho acredita que há uma demanda por uma humanização da medicina por parte dos médicos, pacientes e sistema de saúde, para o qual a tecnologia sai muito caro. “Nenhum médico se sente satisfeito apenas listando exames a serem feitos ou recebendo um paciente encaminhado por outro colega com exames que ele não pediu”, diz.
Sobre a polifarmácia, Campos Velho afirma que a falta de geriatras ou médicos de família para dar conta da população idosa acaba permitindo que o paciente passe por diversos especialistas, que apenas acrescentam medicamentos. “Precisamos de um profissional com um olhar global e que adote um medicamento apenas quando tenha comprovação clara dos benefícios ao paciente e a sua qualidade de vida, pois muitas vezes os efeitos adversos podem ser piores do que a falta de tratamento”, diz.
Origens
O termo slow medicine teve origem na Itália, derivado do conceito slow food, que prega refeições que devem ser feitas sem pressa, entre outras reflexões. Nesse país, segundo Campos Velho, a slow medicine já está bastante estabelecida, inclusive com associações. Nos Estados Unidos e no Brasil, o que existem são iniciativas por parte de alguns profissionais da área da saúde.
Em outubro de 2017 aconteceu o I Encontro Brasileiro de Slow Medicine na sede da Associação Paulista de Medicina, em São Paulo.