O primeiro palestrante internacional a fazer sua intervenção no GERP.17 foi Ryan Woolrych, professor na área de saúde e bem-estar da Universidade de Heriot-Watt, em Edimburgo, na Escócia, e professor na área de envelhecimento da Universidade Simon Fraser em Vancouver, no Canadá. A apresentação foi feita via videoconferência, com o tema “Gerontecnologia – Desafios e oportunidades usando a tecnologia para dar suporte à população”.
O professor contextualizou a situação de envelhecimento da população brasileira e a comparou com a realidade do Reino Unido. “O Reino Unido teve 50 anos para se adaptar com a inversão demográfica da população. O Brasil, apenas 20”, disse o professor Woolrych. Ele lembrou ainda que as pessoas estão vivendo por mais tempo, mas sem qualidade de vida. “Vivemos anos de falta de capacidade, doenças e comorbidades. E a expectativa de vida deveria levar em conta os anos com qualidade, não apenas a quantidade”, afirmou.
O especialista ressaltou que atualmente, na “agenda do envelhecimento”, o objetivo é, cada vez mais, dar suporte para idosos em suas próprias casas e na comunidade, onde podem ter uma vida mais independente e segura. “A questão é envelhecer no lugar certo e reconhecer que certas abordagens, incluindo aí o uso da tecnologia, podem dar suporte à saúde das pessoas que estão envelhecendo”, afirmou.
Ryan defendeu que novidades tecnológicas na Gerontecnologia têm auxiliado nos cuidados com idosos e fazendo com que muitos voltem a assumir as rédeas de sua própria vida, cuidando de si mesmas e mantendo-se ativos. “Essa autogestão proporcionada pelas tecnologias ajuda os idosos a serem mais ativos”, explicou.
Entre essas tecnologias estão sensores ambientais, casas inteligentes, monitores para quedas, e redes de comunicação e monitoramento que geram informações em tempo real, tanto para os idosos como para seus cuidadores, profissionais ou familiares. “Os testes realizados com tecnologia assistiva têm sido muito positivos, melhorando as taxas de mortalidade e diminuindo as hospitalizações”, comemorou.
A primeira onda dessa tecnologia são os dispositivos de emergência que os idosos usam como um colar e acionam em caso de necessidade. O aparelho avisa uma central, que manda um profissional para checar o estado de saúde ou a condição do idoso. No entanto, em pesquisas qualitativas, muitos idosos afirmaram não usar o dispositivo por ser “feio” e por representar dependência, o que os deixa envergonhados.
A segunda geração de tecnologia são os sensores que conseguem detectar emergências, quedas ou outros problemas no ambiente. Ainda assim, é preciso ser usado no corpo, como um cinto, por exemplo.
A terceira geração de tecnologia, do tipo AAL (Ambient Assisted Living), une dispositivos eletrônicos e sistemas que, integrados, dão suporte para que a pessoa idosa possa viver independentemente, porém com total monitoramento. Há uma variedade de funções e indicadores possíveis. “Os sensores podem monitorar os sinais vitais e outros podem indicar mobilidade, por exemplo”, explicou o professor. Sensores em portas, por exemplo, podem informar o cuidador ou familiar, a distância, que o idoso não tem saído de casa, contrariando o padrão normal. “Algoritmos permitem até que o cuidador seja alertado de situações de emergência ao detectarem alguma movimentação fora do padrão”, explicou.
Por outro lado, a tecnologia pode ajudar o próprio idoso a monitorar seus parâmetros relacionados a doenças crônicas como hipertensão arterial e diabetes.
Na prática
O professor apresentou os resultados de dois projetos implementados na Europa e a opinião de cuidadores e idosos a respeito deles. O primeiro foi o SAPHE (Smart and Aware Pervasive Healthcare Environments), implementado no Reino Unido. Sensores no corpo e espalhados pelo ambiente, bem como redes conectadas, foram implementados para 82 idosos e suas residências, sob a supervisão de 22 profissionais da saúde. Ao final de seis meses de experimento, foram realizadas pesquisas qualitativas com os participantes.
Do lado dos idosos, os principais benefícios foram a segurança e o monitoramento da saúde, com redução de acidentes e de hospitalização. Por outro lado, eles se disseram ansiosos com o monitoramento constante e se sentiram vigiados.
Já os cuidadores se beneficiaram em poder realizar intervenções mais precocemente, mas relataram ter a sensação de estar sempre trabalhando, já que eram avisados a qualquer hora do dia ou da noite sobre possíveis problemas e a sensação de estarem sendo substituídos por tecnologia.
Outro projeto foi o SOPRANO (Service Oriented Programmable Smart Environments for Older Europeans) que, além do monitoramento, tinha uma interface por meio da qual o idoso era avisado sobre a hora das medicações, informações sobre dieta, exercício e consultas médicas.
Sobre esse projeto, os idosos relataram sentir-se mais seguros e confortáveis com o sistema. Relataram que aceitariam abrir mão de privacidade desde que isso os mantivesse por mais tempo vivendo em suas casas. Queixaram-se de um sistema invasivo, porque os familiares eram avisados sobre quantas vezes os idosos foram ao banheiro, por exemplo. Como negativo, disseram que as câmeras dão aos familiares a sensação de estarem por perto – diminuindo a frequência de visitas presenciais.
Apesar de alguns pontos ressaltados como negativos, em geral, a tecnologia, na opinião do professor, é positiva no monitoramento da saúde. “Mas é preciso haver mais transdisciplinaridade entre profissionais da saúde e também a indústria para que as tecnologias sejam mais assertivas e levem em conta diferenças culturais e sociais”, concluiu.
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