A geriatra Mariana Siqueira, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) iniciou a mesa-redonda sobre deficiência intelectual (DI) e envelhecimento abordando as principais comorbidades em idosos com deficiência intelectual.
A especialista citou que as doenças mais comuns para essa população são demência, osteoporose, disfagia e osteoporose, entre outras. Destacam-se ainda fatores de risco adicional para quedas devido a alterações de marcha e equilíbrio, comportamento desafiador, sedação, agitação e déficit visual. No caso de idosos com Síndrome de Down, também são comuns a menopausa precoce e as tireoidopatias.
A médica destacou que as pessoas com deficiência intelectual costumam apresentar sinais de envelhecimento mais cedo do que a população em geral. “Mas claro que depende do organismo e do meio em que vivem”, disse. De acordo com ela, para pessoas sem síndromes genéticas, mas com DI, o envelhecimento se dá entre os 50 e 55 anos. Já para aquelas com Down, acontece mais cedo, entre 40 a 45.
A ocorrência de comorbidades também é bastante comum nessa população, sobretudo nos portadores de deficiência intelectual institucionalizados. Os medicamentos mais utilizados são antipsicóticos, antidepressivos e anticonvulsivantes, cuja interação com outros medicamentos pode ser bastante comprometedora, segundo a especialista. “Além disso, estudos demonstram a pouca eficácia da terapia farmacológica para alterações de comportamento frequentemente encontradas entre esses pacientes. Por isso, a terapia psicológica é preferível à prescrição de drogas, mas infelizmente sabemos que isso nem sempre é viável”, afirmou.
Além disso, segundo ela, o idoso com DI faz menos exames preventivos para rastreio de câncer de cólon, mama e de colo de útero, de acordo com estudos. “E apesar de maior morbidade em idades mais precoces e de estarem mais expostos a situações com grande repercussão na qualidade de vida, as pessoas com DI não recebem suporte necessário para manutenção de sua saúde”, finalizou a médica.
Saúde e qualidade de vida
A fonoaudióloga Claudia Lopes Carvalho, da APAE de São Paulo, tratou sobre o tema “Saúde, bem-estar e qualidade de vida na velhice da pessoa com DI”. Ela começou trazendo um histórico da deficiência com o passar dos anos: na década de 1980, a longevidade das pessoas com Down era de 25 anos; nos anos 90, ela chegava na casa dos 50 anos; hoje, ela bate na casa dos 56 a 60 anos em países desenvolvidos. “No Brasil ainda não há indicadores objetivos, mas na prática diária entendemos que é semelhante aos países desenvolvidos”, disse Claudia.
Os idosos representam 2,9% da população com problema mental ou intelectual. “Da mesma forma que a população em geral está envelhecendo, o portador de DI também”, afirmou. No entanto, o envelhecimento é diferente de acordo com a síndrome ou problema causador da DI. “Os perfis de envelhecimento são típicos para cada etiologia de deficiência”, explicou.
Claudia destacou que é fundamental compreender dois fatores para promover a qualidade de vida nessa população: a presença de comorbidade e o uso de medicamentos ao longo da vida. “É preciso repensar e estudar a pessoa que precisa de atenção e cuidados. Precisamos de planejamento das ações, intervenções de qualidade de vida com metas claras para essa população”, disse.
Finalizando a sessão, a educadora física Leila Regina de Castro, do Departamento de Envelhecimento da APAE São Paulo, apresentou o trabalho da instituição junto aos idosos. “Nossos idosos têm um envelhecimento diferenciado, para o qual a atenção de saúde tem que considerar etiologias e especificidades”, afirmou.
Na APAE, o atendimento é híbrido, unindo assistência social e promoção da saúde. Leila apresentou as propostas de atendimento:
– acompanhamento especializado
– elaboração de ações de saúde pela equipe multidisciplinar e por meio de oficinas e atividades externas
– fomento à inclusão social
– atendimento ao familiar e cuidador, para que ele possa compreender o envelhecimento de seu parente
– ações intergeracionais
“Atualmente atendemos 125 pessoas de todas as regiões da capital. Eles chegam com idade acima de 35 anos, mas entram para nosso atendimento específico a partir do momento que demonstrem sinais sugestivos de envelhecimento”, explicou. O idoso mais velho da APAE São Paulo com deficiência intelectual tem 67 anos, e com síndrome de Down, 63 anos.
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