Dois dos palestrantes internacionais presentes no GERP.19 apresentaram estudos e atualidades no tema fragilidade no segundo dia de congresso. Os especialistas apresentaram os mais atuais estudos nos temas de fragilidade e sarcopenia e afirmaram que é possível prevenir essas condições, bem como utilizar estratégias que podem minimizar os efeitos do declínio físico inerentes ao processo de envelhecimento.
O médico Jeremy Walston, professor de Geriatria e Gerontologia da Johns Hopkins University e codiretor do programa Biologia da Fragilidade na mesma instituição, falou sobre inflamação crônica e como ela se relaciona com fragilidade.
Na sequência, a geriatra brasileira Ana Beatriz Di Tommaso, presidente da Comissão Permanente de Cuidados Paliativos da SBGG, coordenadora da pós-graduação em Cuidados Paliativos do Hospital Israelita Albert Einstein e médica do Ambulatório de Longevos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apresentou um panorama sobre o envelhecimento no Brasil e falou sobre o conceito de fragilidade cognitiva, citando os mais recentes estudos no tema.
A apresentação de encerramento foi do geriatra italiano Francesco Landi, professor da Catholic University of Sacred Heart e diretor da Unidade de Reabilitação Geriátrica do Hospital de Roma, na Itália, relacionando sarcopenia e fragilidade. Landi também é um dos principais responsáveis pelo Consenso Europeu de Sarcopenia. A mesa foi coordenada pelo fisioterapeuta Tiago da Silva Alexandre, presidente de Gerontologia da SBGG-SP.
Walston deu início à sua apresentação falando sobre a dificuldade de se definir as causas da fragilidade, já que a inflamação crônica está relacionada a muitas doenças, como as cardiovasculares, cânceres, especialmente os metastáticos, insuficiência cardíaca congestiva, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), anemia e outras. “As etiologias da inflamação crônica incluem aumento da massa gorda, dano mitocondrial, doenças e infecções crônicas recorrentes, que reativam esse processo de inflamação e podem levar a uma elevação subclínica do sistema imune”, afirmou.
“O fato é que a fragilidade tem como consequências o declínio funcional, sarcopenia, declínio das células satélites, declínio cognitivo – que não chega a ser Alzheimer, mas diminui a cognição. E os idosos têm resposta insatisfatória a vacinas”, disse Walston. “Se for resumir a fisiologia da fragilidade física, posso citar inflamação, diminuição na produção de energia e alteração na resposta ao estresse”, disse.
Ele citou ainda os gatilhos que podem aumentar a inflamação, entre eles excesso de álcool (“mais de um drink por dia”) e exercício físico. “A necessidade de exercício físico moderado é evidente, mas aqui trata-se do exagero, por exemplo, dos atletas que correm ou treinam o equivalente a maratonas várias vezes por semana”, explicou.
Se medir a inflamação crônica ainda é um desafio, apesar de estudos já existentes com citocinas, não se pode falar em medicamento para reduzir ou bloqueá-la, pois as pesquisas não apontam evidências suficientes. O pesquisador, no entanto, apontou o que se pode fazer já para reduzir a inflamação crônica – exercício moderado, boa nutrição, reduzir o consumo de carne vermelha, ingerir mais carboidratos complexos, com o objetivo de construir uma microbiota saudável pela dieta. Também incluem-se na lista aumentar a resiliência, manter boas relações sociais, diminuir o estresse e realizar um bom manejo de doenças agudas e crônicas, principalmente hipertensão arterial e diabetes tipo 2.
“Estamos dando andamento a pesquisas para esclarecer os melhores tipos de atividades físicas e determinar as necessidades nutricionais ótimas para redução da inflamação crônica”.
Fragilidade cognitiva
A geriatra Ana Beatriz Di Tommaso falou sobre a fragilidade cognitiva, caracterizada pela fragilidade física somada a alterações cognitivas, após apresentar um amplo panorama sobre o envelhecimento demográfico brasileiro. “A literatura apresenta maior prevalência de transtornos cognitivos e baixo desempenho nos testes cognitivos em idosos frágeis. E, por outro lado, a fragilidade aumenta o risco de alterações cognitivas futuras e demência”, afirmou.
No entanto, a geriatra diz que é importante destacar que a fragilidade cognitiva implica em fragilidade física, comprometimento cognitivo leve, porém com ausência de demência e outras alterações neurológicas. “Então, quando um paciente aparece nessa condição no consultório, o recomendável é dizer para que ele coma melhor e compre uma bicicleta”, finalizou, arrancando risos da plateia.
Sarcopenia e sua relação com fragilidade
O geriatra italiano Francesco Landi trouxe aos participantes do GERP.19 algumas conclusões de suas pesquisas e estudos que têm sido o centro de seu interesse nos últimos anos – e que relacionam sarcopenia e fragilidade. “Não apenas elas se sobrepõem, como uma é o substrato da outra”, disse.
Uma pesquisa que ele e sua equipe realizaram foi dentro da Expo Milão de 2015, abordando pessoas que por ali passavam, o que permitiu a criação de um grande banco de dados com 1.924 pessoas de 8 a 98 anos. O time de pesquisadores tinha como objetivo entender o que acontece no processo de envelhecimento – em pessoas comuns, sem queixas específicas, fora do ambiente universitário e hospitalar. Fizeram então a medição da circunferência da panturrilha, mediram a força do aperto de mão e o tempo que cada um levou para sentar e levantar de uma cadeira por 10 vezes.
No geral, a conclusão foi de que homens e mulheres apresentam uma medição estável até os 50 anos de idade e, a partir dessa faixa etária, os indicadores de força, massa muscular e velocidade começam a reduzir. No caso do teste da cadeira, as pessoas mais idosas levaram o dobro do tempo que os adultos de outras faixas etárias para concluir o exercício. “Esse declínio é uma má notícia para todos. Mas a boa notícia é que não há genes ligados a ele”, afirmou Landi.
Isso porque pesquisadores em Taiwan repetiram a experiência italiana na população local e depois compararam os resultados dos dois países – embora os italianos tenham apresentado um pouco mais de força muscular, o declínio a partir dos 50 anos é exatamente o mesmo para as duas populações. “Ou seja, o declínio não depende de nossa constituição genética. O envelhecimento é o fator mais importante dessa perda. O desafio então é como manter-nos na linha média para não perdermos músculo, força e não nos tornarmos sarcopênicos”, analisou o pesquisador.
Diante disso, o pesquisador propõe que é importante minimizar os fatores de risco citados por Walston, como a inflamação crônica, o sedentarismo, o estresse oxidativo, maus hábitos nutricionais, incluindo a anorexia na população idosa, entre outros. “A má nutrição é o substrato da sarcopenia que, por sua vez é substrato da fragilidade física. Prevenindo a primeira talvez sejamos capazes de prevenir a segunda”, defendeu.
“A pergunta então deve ser: a sarcopenia pode ser prevenida ou tratada? Ou seja, é possível prevenir perda e função muscular ou mesmo tentar restaurá-la?”, questionou Landi. A resposta, segundo o pesquisador, pode estar na sua pesquisa, realizada na Expo Milão. As pessoas que realizaram o teste da velocidade para levantar e sentar em uma cadeira por 10 vezes foram divididas entre sedentárias, aquelas que faziam algum movimento (caminhadas, por exemplo), grupo que realizava exercícios aeróbicos ao menos duas vezes por semana e, por fim, as pessoas que faziam exercícios de resistência. A conclusão foi que o grupo de idosos da mostra que realizava exercícios aeróbicos ou de resistência tem o mesmo desempenho das pessoas na faixa de 55 anos sedentária. “Isso mostra que vamos ter um declínio, mas podemos mudar seu curso e ganhar 30 anos de autonomia. Os exercícios são uma das soluções”, contou. Outro elemento em comum entre os idosos com melhor desempenho no teste da cadeira foi a alta ingestão proteica.
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