Estudos mostram que o trabalho do cuidador de um paciente com demência é um dos mais estressantes e com maior impacto na saúde de quem o desempenha. Os resultados de um trabalho da Universidade do Estado do Rio de Janeiro publicado em 2014 concluiu que “o estresse nos cuidadores é um ponto que se expande em muitos outros problemas que desencadeiam comprometimentos na qualidade de vida, do ponto de vista físico, mental, psicológico e emocional”.
“Os cuidadores familiares são muitas vezes apelidados de ‘pacientes ocultos’, já que também necessitam de cuidados. A frase ‘Um paciente com demência equivale a dois necessitando de cuidados’ descreve a drástica diminuição da qualidade de vida do paciente e, consequentemente, do cuidador”, diz Maria Cristina Guapindaia Carvalho, psicóloga da Clínica de Geronto-Geriatria do Hospital do Servidor Público Municipal.
A especialista destaca o impacto que a função de cuidador tem sobre a saúde psicológica da pessoa, que passa por uma montanha russa de emoções durante o processo. Se não abordados, os sentimentos muitas vezes podem ter reflexos na saúde física e, consequentemente, na qualidade de cuidado oferecido ao idoso.
Entre os sentimentos mais comuns, um dos principais é a culpa. Muitos cuidadores acreditam que o que fazem não é o suficiente. Em outras ocasiões, a pessoa estabelece uma lista de obrigações, como “Tenho que ficar com minha mãe”, e caso não consiga cumprir, acaba se sentindo culpado.
“Muitas vezes sentimentos de culpa surgem associados à ideia de deixar o idoso relegado ao abandono. Em situações extremas, o cuidador se isola até dos outros familiares e seu convívio passa a ficar restrito à pessoa cuidada”, diz Maria Cristina.
Outra emoção recorrente é o ressentimento em relação a pessoas próximas do paciente que não ajudam com o cuidado, como irmãos e filhos. Não raro esse sentimento pode estar relacionado ao próprio idoso sendo cuidada, quando o cuidador se sente invadido por responsabilidades fora do seu próprio controle.
O ressentimento pode evoluir para raiva, que acontece tanto por razões diretas, como uma crítica injusta ou um acidente ocorrido no dia, ou por razões indiretas, como falta de sono, frustração pela própria falta de controle ou alguma decepção reprimida.
“É preciso compreender e apoiar o cuidador bem como oferecer toda ajuda que for possível para que a tarefa de cuidar de seu familiar traga menos sobrecarga e estresse. Evitar fazer cobranças e tentar se colocar na situação dele muitas vezes diminui estas reações”, explica a psicóloga.
Outras emoções por que o cuidador geralmente passa incluem preocupação, solidão e luto. Ignorá-las pode ter consequências prejudiciais na saúde física. Estudos mostram mostram que sentimentos mal resolvidos podem causar dificuldade para dormir, ansiedade, dores de cabeça, dores de estômago, depressão, entre outras condições.
Por isso, Maria Cristina alerta a necessidade de o cuidador desenvolver aptidões e conhecimentos sobre o cuidar, principalmente pela troca de experiências. Ela recomenda que cuidadores frequentem grupos de apoio que contem com uma estrutura institucional, estratégica e cultural. Grupos como os da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) podem ser um espaço não apenas para dividir as dificuldades, mas também para aprender com as vivências de outros.
Ao lidar com suas próprias emoções, o cuidador garante um cuidado de qualidade para seu familiar idoso. “Quando o cuidador não está bem não pode cuidar bem de ninguém. Cabe à equipe médica perceber o que está acontecendo e intervir na situação, chamando a família e solicitando que outras pessoas assumam o cuidado ou que contratem um cuidador profissional para ajudar no dia a dia”, explica. “Outras alternativas possíveis podem ser centro-dia para o idoso, revezamento dos filhos no cuidado ou até a institucionalização do idoso se as anteriores não derem certo.”
Por Fernanda Figueiredo
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