Jerocílio Júnior - Médico residente do Hospital do Servidor Público Estadual
Maurício Ventura - Diretor Técnico do Serviço de Geriatria e Gerontologia do Hospital do Servidor Público Estadual
As quedas constituem uma grande preocupação para o médico geriatria. Além de ser uma grande síndrome com repercussões clínicas, psicológicas e sociais, as quedas são consideradas um significativo problema de saúde pública por estarem relacionadas a institucionalização precoce, diminuição de qualidade de vida, mobilidade prejudicada e aumento de custos. Na nossa rotina geriátrica, quando nos deparamos com o assunto quedas, que vai da prevenção à reabilitação no seu amplo espectro, pensamos sempre na sua relação com fármacos e a questão da polifarmácia. Para nossos pacientes com risco de quedas, fazemos escolhas diárias baseadas na farmacologia das drogas, mas sem muito acesso a estudos que associem quedas a fármacos especificamente, além de resultados conflitantes na literatura. Visando uma perspectiva abrangente das associações entre medicamentos e risco de quedas em idosos, um grupo holandês fez uma revisão sistemática e metanálise para avaliar a associação entre quedas e diferentes classes de drogas cardiovasculares, psicotrópicas e outras drogas. Foram realizadas pesquisas nos bancos de dados do
,
e
até setembro de 2016, num total, após exclusões, de 131 artigos de drogas cardiovasculares, 248 artigos de psicotrópicos e 281 artigos de outras drogas, todos em pacientes com idade superior a 60 anos.
O resultado das pesquisas encontra-se de forma resumida na tabela abaixo:
OR:
(intervalo de confiança de 95%)
É interessante notar que a maioria das drogas de nossa prática diária estão relacionadas ao risco de quedas. Um dado que chama a atenção é que inibidores seletivos da recaptação de serotonina estão mais relacionados a quedas que os temidos antidepressivos tricíclicos. E os betabloqueadores cardiosseletivos apresentam-se como protetores para quedas diferentemente dos não cardiosseletivos.
O grande ponto positivo do estudo foi ser a primeira revisão abrangente para o tema. A maioria dos estudos são observacionais, de qualidade moderada e de alta heterogeneidade.
Por fim, a base do atendimento geriátrico, que consiste no bom relacionamento médico-paciente, avaliação a cada consulta da desprescrição de medicamentos desnecessários, o início de fármacos com doses mais baixas e aumentos lentos associados ao conhecimento das drogas potencialmente causadoras de quedas são elementos fundamentais para a prevenção de quedas.
de Vries, Max Blain, Hubert et al. Fall-Risk-Increasing Drugs: A Systematic Review and Meta-Analysis: I. Cardiovascular Drugs. Journal of the American Medical Directors Association, Volume 19, Issue 4, 371.e1 - 371.e9, 2018.
Seppala, Lotta J. Blain, Hubert et al. Fall-Risk-Increasing Drugs: A Systematic Review and Meta-Analysis: II. Psychotropics. Journal of the American Medical Directors Association, Volume 19, Issue 4, 371.e11 - 371.e17, 2018.
Seppala, Lotta J. Blain, Hubert et al. Fall-Risk-Increasing Drugs: A Systematic Review and Meta-analysis: III. Others. Journal of the American Medical Directors Association, Volume 19, Issue 4, 372.e1 - 372.e8, 2018.
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