Testamento vital: como os profissionais de saúde podem ajudar seus pacientes

Nurse sitting on a hospital bed next to an older woman helping hands, care for the elderly conceptCada vez mais comum entre as famílias é que um ente manifeste desde jovem sua vontade de ser um doador de órgãos após a morte. A decisão final é da família – é ela quem autoriza ou não a retirada dos órgãos desse parente após sua morte cerebral. É uma decisão muitas vezes difícil, ainda que ele tenha expressado esse desejo em vida. A equipe de saúde precisa de preparo para essa conversa com os familiares, garantindo a eles que o paciente não tem mais possibilidade de viver e que a doação pode promover vida para outras pessoas.
Ainda de forma inicial, uma outra conversa tem sido – e precisa ser – feita em família e com o médico pessoal: os desejos para os últimos momentos de vida. Tétrico? “Essa é a opinião de muita gente ainda, inclusive entre os profissionais de saúde”, diz a geriatra Rosmary Arias Buse, da diretoria da SBGG-SP e preceptora de Geriatria e Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual.
Embora a geriatra saliente que há uma pequena diferença entre diretivas antecipadas de vontade e testamento vital (este último seria o documento que formaliza as diretivas), o importante é que o médico converse com o paciente sobre suas vontades e escolhas para o fim da vida ou para a evolução de uma doença sem cura.
“O médico pode e deve auxiliar o paciente na redação desse documento, que deve, de preferência, ficar registrado no prontuário médico”, orienta Rosmary. Não há necessidade de registrar o documento em cartório, mas é importante que os familiares saibam de sua existência. A exceção deve ser, orienta a médica, para aqueles que não têm família e nem qualquer círculo social. “Nesse caso, é importante ter o documento com assinatura reconhecida em cartório para dar mais força ao pedido e ao médico que tenha conhecimento dele”, diz.
O ideal é que o paciente, ao receber um diagnóstico de uma doença que ameace a vida – seja um acometimento oncológico, neurodegenerativo, entre outros – possa expressar suas vontades e limites de tratamento. “O médico deve guiar o paciente nas escolhas, explicando, por exemplo, se ele deseja ou não ser alimentado por sonda quando já não puder se alimentar; ser intubado ou ressuscitado, entre outras medidas”, explica Rosmary.
“Esse trabalho precisa ser feito enquanto o paciente está com as funções mentais preservadas, com capacidade de tomar decisões a respeito de sua própria saúde. Por isso, o médico deve propor essa conversa o quanto antes”, diz.
Quando o momento de fazer essas vontades prevalecerem chegar, o médico deve estar junto da equipe de atendimento emergencial ou intensivo. “O geriatra deve ir até o hospital conversar com essa equipe, já que ele é quem realizou o acompanhamento em longo prazo”, diz a geriatra. E, especialmente, com a família para que, nesse momento difícil, as escolhas do paciente sejam respeitadas.