É Alzheimer – e agora?

Receber um diagnóstico de Alzheimer costuma ser devastador – não só para quem tem a doença, mas também para os familiares. “Alzheimer não tem cura” é uma das primeiras ideias que vêm à mente. “É uma fase difícil que afeta todos os membros de uma família”, diz a psicóloga Cleofa Toniolo Zenatti, diretora de Atenção ao Cliente do Residencial Toniolo. “Existe desconhecimento em relação à doença, sobre o que fazer, como agir, entender a pessoa afetada e o próprio sentimento do familiar”, afirma.
O diagnóstico de Alzheimer é feito por exclusão – exames físicos e psicológicos eliminam outras possibilidades de doenças, já que não há um exame específico para esse tipo de demência. Normalmente, são os familiares que conduzem a pessoa ao médico por notarem algumas mudanças no dia a dia. “Os primeiros sinais que os familiares percebem são a perda de memória recente e a mudança repentina no comportamento”, explica a especialista.
Conforme diz Cleofa, nesse momento, surgem as dúvidas. “Como tratar? Qual especialidade médica devo procurar? O que fazer para a Doença de Alzheimer não progredir? Como lidar com o idoso em situações de alteração de comportamento? O que fazer quando ele repete a mesma história várias vezes?”, cita.
A psicóloga diz que, embora essas perguntas sejam frequentes, as respostas não se encontram em um manual, já que cada caso é único e as respostas devem ser adequadas a cada realidade – levando em conta a relação da pessoa com Alzheimer e a família, bem como sua história de vida.
O luto inicial
O diagnóstico pode ser tão difícil para os familiares que é comparado ao luto. Cleofa cita a psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross. A pesquisadora, pioneira no estudo sobre a morte, relata 5 estágios do luto e Cleofa faz uma similaridade das fases com aquelas por quais passam os familiares ao saberem do diagnóstico de Alzheimer de alguém querido. “É uma forma interessante de entendermos um pouco esse processo de luto quando se tem um caso de Alzheimer na família”, diz.
Conheça os 5 estágios, segundo descrição da psicóloga:
1- Negação – São mecanismos de defesas temporários. O familiar tentará encontrar as suas próprias explicações para desculpar essas mudanças que o idoso apresenta e, ao mesmo tempo, continua negando internamente que haja um problema (“afinal, ele sempre foi um pouco distraído”). É necessário que esse estágio de negação dos familiares seja reconhecido para não se perder tempo e impedir que o tratamento adequado seja tomado.
2 – Raiva – Como não é possível manter a negação por muito tempo, os relacionamentos se tornam problemáticos e todo o ambiente é hostilizado pela revolta e ressentimento. Surgem atitudes agressivas: “Por que ele?… Com tanta gente ruim para ficar doente, porque ele, ele que sempre fez o bem, sempre tão trabalhador, tão honesto…”
3 – Barganha – Ao passar pela negação e o isolamento, e ao sentir que a raiva também não resolveu, o familiar entra nesse terceiro estágio. A pessoa oferece algo a Deus, implora que Deus aceite suas “ofertas” e “promessas” em troca da cura.
4 – Depressão – Surge quando o familiar toma consciência da doença, e não consegue mais negá-la. É uma atitude evolutiva. Negar não adiantou, agredir e se revoltar também não, fazer barganhas não resolveu. É a dor e o sofrimento psíquico de quem percebe a realidade nua e crua. Aqui a depressão assume um quadro típico, com características de desânimo, apatia, tristeza, choro etc.
5 – Aceitação – Nesse estágio, os familiares não experimentam o desespero e nem negam sua realidade. É o momento da compreensão e o entendimento da doença.
 
O que vem depois?
Apesar de ser natural passar por esses estágios após o diagnóstico de um familiar querido, é essencial que se busque ajuda médica e o acompanhamento de profissionais especializados. “Isso é importante para que a família perceba que é possível ter uma vida paralela à doença, que é possível viver. Para cuidar, eu preciso ser cuidado e estar bem”, diz Cleofa.
Quanto mais informação para os familiares – sejam eles os cuidadores diretos da pessoa com Alzheimer ou não –, melhor. Diversas associações e serviços oferecem reuniões de apoio aos familiares e cuidadores, nas quais é possível compartilhar histórias e obter informações sobre a doença. O profissional de saúde que cuida da pessoa com Alzheimer pode indicar um desses serviços.