Reduzir o risco vascular previne demência?

A demência que acomete pessoas nos últimos anos de vida costuma estar relacionada ao Alzheimer e se caracteriza pelos depósitos de amiloide, emaranhados neurofibrilares e placas neuríticas contendo amiloide, bem como perda de neurônio e gliose. Grande parte das pessoas com Alzheimer tem também outros agregados de proteína (corpúsculos de Lewy  e TDP43), esclerose hipocampal e danos vasculares cerebrais que incluem angiopatia amiloide, aterosclerose, infartos lacunares, microinfartos e hemorragias. Dessa maneira, pode-se dizer que a patologia da demência em idosos é heterogênea, multideterminada e geralmente progride por várias décadas antes de ser diagnosticada.
Idade e o alelo Ɛ4 da apoliproteina E (APOE)  são os maiores fatores de risco para demência. Além disso, epidemiologistas atribuem um terço dos casos de demência na idade idosa a sete fatores de risco modificáveis: baixo nível educacional, hipertensão na meia-idade, obesidade na meia-idade, diabetes tipo 2, inatividade física, tabagismo e depressão. Se esses são, de fato, riscos, então, por exemplo, ao reduzir a prevalência deles entre 10% e 20% a cada década, reduziria a prevalência de demência em 8% a 15%.
Várias pesquisas têm sido feitas para relacionar a redução do risco cardiovascular e a demência. Publicado no periódico The Lancet, um estudo feito pelo pesquisador Eric Moll van Charante, do Academic Medical Center, de Amsterdã, na Holanda, analisou 3.526 idosos com idade entre 70 e 78 anos sem demência quanto à eficácia na redução da incidência de demência e de incapacidade funcional em um programa multidisciplinar em que os pacientes eram vistos cerca de 3 vezes ao ano durante 6 a 8 anos e contavam com gerenciamento da medicação, orientação de cuidados com a saúde e avaliação de risco cardiovascular.  Esse grupo foi comparado a outro, com 1636 participantes, que recebiam apenas cuidados de praxe de saúde.
Do grupo de intervenção, 121 idosos (7%) desenvolveram demência. No grupo controle, 112 (7%) participantes também desenvolveram demência. Os resultados desse ensaio, portanto, foram decepcionantes: o cuidado cardiovascular não ofereceu qualquer vantagem, a não ser por uma pequena redução, em média, na pressão sanguínea.
Qualquer redução de riscos ou intervenções para prevenção devem ser focalizados nos grupos que carregam os riscos ao invés de fazê-los em uma ampla amostra populacional. No caso de ensaios de prevenção, uma estratégia de tratamento predeterminada pode não servir para todos.
No entanto, consultar o médico para verificar os riscos cardiovasculares pode ter efeito benéfico, ainda que não seja para reduzir a incidência de demência. O quanto os cuidados cardiovasculares e intervenções para reduzir a pressão arterial podem reduzir a demência em idosos com hipertensão é algo ainda a ser testado em ensaios furos.
Por Lon S Schneider (Department of Psychiatry and the Behavioral Sciences and Department of Neurology, Keck School of Medicine of the University of Southern California, Los Angeles, CA, EUA)
 
Traduzido do inglês. Para ler o original, acesse:
http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(16)31129-1/fulltext