Terceiro Consenso Internacional de Definições de Sepse e Choque Séptico

HSPM

Dr. Fábio Takashi Kitadai
Médico assistente e preceptor da Residência de Geriatria
do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo

 

Dra. Beatriz de Sá Coimbra
Médica residente do serviço de Geriatria
do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo

 

Dra. Rafaela Candida Silva Freire de Carvalho
Médica residente do serviço de Geriatria
do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo

 
Tema: Terceiro Consenso Internacional de Definições de Sepse e Choque Séptico.
Estudo: The Third International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock (Sepsis-3).
Fonte: JAMA.2016;315(8):801-810.
 
 
Importância: A última revisão para definição de sepse e choque séptico foi realizada em 2001. Avanços nos conhecimentos da fisiopatologia, tratamento e epidemiologia da sepse tornaram necessária a reformulação das definições de sepse e choque séptico.
Objetivo: Avaliar e atualizar as definições preconizadas de sepse e choque séptico.
Procedimento do estudo: Foi organizada força-tarefa pelas sociedades “European Society of Intensive Care Medicine” e “Society of Critical Care Medicine” para atualização de novos critérios de sepse e choque séptico, por meio de reuniões periódicas, entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015, correspondências eletrônicas, análises de dados e revisões sistemáticas. O consenso das avaliações dos especialistas, pelo método Delphi, e votações definiram os novos conceitos de sepse e choque séptico. As atualizações foram avaliadas, revisadas e aprovadas pelas principais sociedades mundiais. 
Achados críticos: As definições prévias focavam excessivamente no conceito inflamatório da sepse, além de não existir clareza nos critérios da Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS).  Havia também variadas definições discrepantes de sepse e choque séptico.
Recomendações: A sepse deve ser considerada como uma disfunção orgânica potencialmente fatal causada por uma resposta inadequada a uma infecção. Para avaliação clínica, recomenda-se a utilização do SOFA – Sequential Organ Failure Assessment, cuja pontuação varia de 0 a 4.  São avaliados os seguintes sistemas: respiratório (PaO2/FiO2 – mmHg), coagulação (plaquetas x 103 µL), hepático (bilirrubinas mg/dL), cardiovascular (PAM – Pressão Arterial Média), neurológico (Escala de Glasgow), renal (creatinina mg/dL, débito urinário). Pontuações ≥ 2 estão associadas com mortalidade acima de 10% em pacientes internados.
Choque séptico é definido como subgrupo da sepse, que se apresenta com alterações circulatórias, celulares e metabólicas profundas. Está associado com maior risco de mortalidade, se comparado apenas à sepse. Os pacientes em choque séptico podem ser clinicamente identificados pela necessidade de drogas vasopressoras para manutenção da PAM ≥ 65 mmHg e lactato sérico ≥ 2,0 mmol/L (> 18 mg/dL), na ausência de hipovolemia. Essa associação está relacionada com taxa de mortalidade hospitalar > 40%.
Pacientes com suspeita de sepse que se encontram fora do hospital, na admissão do Pronto-Atendimento ou mesmo internados num hospital geral podem ser identificados rapidamente através de uma pontuação ≥ 2 pelo escore qSOFA (Quick SOFA), que é composto por: frequência respiratória ≥ 22/min, alteração do nível de consciência e Pressão Arterial Sistólica ≤ 100 mmHg.
tabela
 
Conclusão: Estas definições e critérios clínicos atualizados devem substituir as anteriores, pois segundo os dados dessa análise, essas informações permitem o reconhecimento precoce e o manejo mais adequado de pacientes com sepse, choque séptico e de risco potencial de evolução para os mesmos.
Comentários: A sepse permanece sendo um grande problema de saúde pública. Devido ao envelhecimento populacional e maior reconhecimento da síndrome, o número de casos está em curva ascendente e é causa de alta morbimortalidade.
Apesar de preconizada a utilização dos escores SOFA e qSOFA, o não preenchimento dos critérios não deve conduzir a qualquer atraso, seja de investigação ou tratamento.
Futuros conhecimentos da biologia da sepse, procedimentos diagnósticos e acúmulo de novas informações nos levará certamente à revisão dos critérios acima apresentados.