Acolhimento é um dos principais cuidados que o profissional de saúde pode oferecer a um paciente com o diagnóstico de Alzheimer e a seus familiares. “É de extrema importância que o profissional prepare a família, pois mesmo aquelas muito estruturadas se sentem sem referência diante do diagnóstico”, diz a geriatra Maisa Kairalla, coordenadora do Ambulatório de Transição de Cuidados da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Uma das primeiras angústias do familiar é a de que a pessoa não seja mais a mesma. “É importante que eles entendam que sim, a pessoa continua a mesma, mas sua capacidade cognitiva vai mudar. Ainda assim, é possível resgatar muito da personalidade desse ente querido, mesmo com a doença”, explica a geriatra. A médica ressalta a importância de uma conversa separada do médico ou outro profissional com a família e com o paciente, já que cada um tem questões diferentes a serem apresentadas e, na presença um do outro, pode haver inibição.
Além do diagnóstico, o profissional de saúde deve abordar o prognóstico e ser sincero quanto aos ainda poucos recursos terapêuticos na medicina para a doença de Alzheimer, uma doença progressiva, porém de evolução lenta. “E mostrar que, mesmo assim, há muito a se fazer, como reabilitação cognitiva e outras medidas para manter a independência da pessoa ao máximo”, diz Maisa.
Manter a independência não significa negligenciar problemas comuns, como por exemplo, a dificuldade crescente que o familiar terá para dirigir um automóvel ou cuidar de sua conta bancária. “É importante ver como proteger essa pessoa, seja com interdição judicial ou outras medidas, mas não a infantilizar no trato diário”, orienta a geriatra.
O médico também deve ir apresentando à família o quadro esperado para o futuro, a fim de prepará-la para as implicações que vão além da perda de memória, como a alteração de fala e na deglutição, por exemplo. “Essa conversa deve ser feita a cada consulta, adiantando-se à evolução da doença. Sabendo que, com diagnóstico precoce, a doença pode perdurar por 10 ou até 20 anos”, afirma.
Falar de cuidados paliativos também é essencial – tentando entender o que a pessoa gostaria para seu futuro e de que maneira a família pode contribuir para respeitar essas vontades.
De grande ajuda é que o médico e os profissionais envolvidos no cuidado incentivem a família toda a buscar ajuda e informações, como nos encontros da ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer). “Além da ABRAz, há outras instituições internacionais, associações e redes de apoio ao paciente com Alzheimer e seus familiares. É muito importante que a família entenda que não está sozinha e que a experiência individual pode se tornar uma força coletiva”, diz a geriatra.
Outro ponto muito importante é que o diagnóstico seja feito o mais precocemente possível. Para isso, o médico deve conversar sobre o tema com o paciente que, na opinião de Maisa, muitas vezes fica tímido para expor seu problema de memória. “O médico deve preparar o ambiente da consulta para uma conversa sincera. Muita gente que não tem Alzheimer acha que tem, mas o problema é que muitos têm e não se sentem à vontade para contar sobre os primeiros sinais. Sendo o diagnóstico clínico, a conversa franca é essencial”, conclui.
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