A cirurgia para catarata é o procedimento de maior demanda do Sistema Único de Saúde (SUS). O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) estima, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que entre 2010 e 2019 tenha triplicado o número de cegos no Brasil, saltando para mais de 1,5 milhão.
“Podemos dizer que os casos de catarata têm uma significativa participação nesse cenário. As outras doenças com alta frequência na população idosa são o glaucoma e a degeneração macular relacionada à idade”, explica a oftalmologista Marcela Cypel.
A catarata se caracteriza pela perda da transparência do cristalino, estrutura do olho localizada atrás da íris e que age como a lente de uma câmera fotográfica, auxiliando na formação das imagens que enxergamos. “Como o nome mesmo diz, o cristalino é transparente, e qualquer opacidade significativa, adquirida ou congênita, é denominada catarata”, diz a médica.
A cirurgia de catarata envolve a retirada do cristalino opacificado e a introdução de uma lente intraocular em seu lugar, que não tem necessidade de ser trocada.
Na população adulta acima dos 75 anos, a catarata tem uma prevalência de 73,3%; e 47,1% no grupo de 65 a 74 anos. Abaixo dos 65 anos, a prevalência cai drasticamente para 17,6%, segundo dados do CBO.
Além do aumento no envelhecimento populacional, a especialista acredita que as filas no SUS para cirurgia de catarata têm outras explicações. “Mesmo sendo uma cirurgia que pode ser feita sem internação, ela requer avaliação pré-operatória, exames pré-operatórios e colocação da lente intraocular no lugar do cristalino opacificado, que será retirado. Tudo isso requer políticas públicas que agilizem e permitam a realização completa do processo, como centro cirúrgico capacitado e recursos para compra de materiais cirúrgicos e lente intraocular”, diz.
Embora não seja grave, a catarata pode atrapalhar muito no dia a dia e na qualidade de vida. “Um idoso que enxerga bem tem melhor qualidade de vida e, com certeza, tem diminuídos os riscos de queda e depressão. Em um cenário mais amplo, portanto, diminui gastos públicos”, comenta a médica.
A previsão do Ministério da Saúde, pré-crise com a COVID-19, era de zerar a fila das cirurgias eletivas, em especial de catarata, em 2020, injetando mais R$ 250 milhões para cirurgias eletivas. Agora, já não há certeza sobre a destinação dos recursos. Saiba mais sobre catarata na entrevista com a oftalmologista Marcela Cypel.
É possível evitar a catarata?
Não existe medicação ou conduta que evite a catarata. No entanto, algumas condições, como o uso excessivo de corticoide ou a presença de diabetes, podem favorecer o seu aparecimento ou sua evolução.
Há contraindicações da cirurgia? Quais?
Eu diria que há o melhor momento para a abordagem cirúrgica e isso depende de cada caso. Por exemplo, dependendo da condição clínica do idoso, do risco de queda e do impacto da baixa da visão na sua qualidade de vida. Há casos em que o olho tem outras alterações e doenças ou problemas responsáveis pela baixa visão, que vão além da catarata. Nesses casos, operar a catarata não irá resolver o problema e então estaria contraindicada. Por isso, a abordagem deve ser personalizada.
Pode haver complicações na cirurgia? Em quais casos?
Sim, existem riscos de complicações, como em qualquer cirurgia, mas eles diminuíram muito nos últimos anos com o avanço das técnicas cirúrgicas, das opções de lente intraocular e dos colírios no pós-operatório.
Qual a importância do uso correto dos colírios no pós-cirúrgico?
O uso correto dos colírios no pós-operatório é de extrema importância. Eles auxiliam na prevenção de infecção e no controle da inflamação pós-operatória. Devem ser usados corretamente, assim como precisam ser feitos com rigor os retornos ao oftalmologista no pós-operatório.
Esses colírios estão disponíveis gratuitamente pelo SUS?
Infelizmente, não. Felizmente, os custos não são altos, variam entre R$ 15 e R$ 20.
Quais outros cuidados com a saúde dos olhos os idosos devem ter?
São inúmeros. Vão desde o “não coçar os olhos”, “não colocar a mão suja nos olhos”, até lubrificá-los para melhorar a qualidade da lágrima. Mulheres pós-menopausa precisam ter esse cuidado, o de aplicar colírio lubrificante, pois os olhos ficam mais ressecados. Comer bem, manter uma alimentação rica e diversificada em nutrientes, e praticar exercícios regulares também mantêm o tecido ocular bem nutrido e oxigenado, auxiliando em sua manutenção bom funcionamento.
É recomendada a consulta anual com oftalmologista para todas as idades?
Sim. A oftalmogeriatria recomenda exame oftalmológico anual após os 60 anos. O exame é indicado não apenas para troca de óculos, mas para cuidar, orientar e prevenir doenças como glaucoma, degeneração macular relacionada à idade, assim como a catarata e a retinopatia diabética.
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