Todos nós sabemos, em teoria, como é um ataque cardíaco. Você sente uma dor esmagadora em seu peito, que te leva ao chão. Tudo acontece em questão de segundos. Certo? Não necessariamente. Especialmente se você é mulher. As doenças cardiovasculares são a causa número um de morte para ambos os sexos, por isso é essencial saber os sinais reais e o que você pode fazer para diminuir risco de um ataque cardíaco.
O texto a seguir apresenta a opinião de especialistas americanos sobre as cinco coisas que as mulheres não sabem – mas deveriam – sobre doenças cardíacas, com os comentários do cardiologista e geriatra Roberto Dischinger Miranda.
- Os sintomas são diferentes. As mulheres podem ou não sentir dor no peito em um ataque cardíaco, que ocorre quando o fluxo sanguíneo para o coração é restringido ou cortado. Os sintomas mais comuns para as mulheres são: falta de ar, dor no maxilar, pescoço ou costas, náuseas, vômitos e fadiga extrema, diz a cardiologista Suzanne Steinbaum, diretora de saúde cardíaca das mulheres no Lenox Hill Hospital, em Nova York, e porta-voz da Associação Americana do Coração.
“O que eu mais ouço (de pacientes) é: ‘Eu costumava carregar pacotes por cinco lances de escada e agora eu não consigo nem subir um lance’”, diz Steinbaum. Em alguns casos, você pode pensar que teve uma indigestão, “mas se o sintoma vai e vem, é um sinal de que é o seu coração.”
Os sintomas podem aparecer quando você está ativa e desaparecer quando estiver em repouso, diz Steinbaum. Eles também podem se desenvolver ao longo de dias ou semanas.
“No geral, há mais similaridades entre os sintomas de mulheres e homens do que diferenças”, diz Miranda. O cardiologista e geriatra diz que é verdade que as mulheres podem apresentar os sintomas descritos pela médica americana, mas a dor típica do infarto – aquela em “aperto” ou pressão –, embora seja um pouco menos comum nas mulheres, também acontece. Normalmente, é uma dor localizada atrás do osso do esterno ou à esquerda do peito (embora também possa ser do lado direito), com possível irradiação para a mandíbula, costas ou braço (o esquerdo é mais comum).
“Muitas pessoas podem ter dor só no braço ou até uma dor de estômago e ser infarto”, explica. “Por esse motivo, o importante é procurar o médico em caso de qualquer dor que surgir, pois os sintomas de um infarto podem não ser claros”. Falta de ar também pode acompanhar a dor ou ser um sintoma isolado. Em idosas, delirium (estado de confusão mental) e síncope (perda de consciência ou força muscular) também não são sinais incomuns.
No entanto, Miranda discorda de que os sintomas de um infarto “apareçam e desapareçam” como descrito pela especialista norte-americana. “As pessoas podem confundir angina e infarto”, diz. Na angina, a obstrução da artéria não é total, como no infarto; o que ocorre é uma diminuição da circulação sanguínea temporária. Por esse motivo, as dores acontecem durante o exercício físico e podem desaparecer em repouso.
A recomendação, no caso de angina, é a mesma: procurar um cardiologista para evitar que o quadro evolua para um infarto.
- O histórico familiar importa. Se seu pai morreu de doença cardíaca antes dos 55 anos ou se sua mãe faleceu antes dos 60 anos, você deve ser examinado o mais rápido possível, diz Steinbaum, autora do Dr. Suzanne Steinbaum’s Heart Book: Every Woman’s Guide to a Heart Healthy Life.
Peça sempre ao médico para medir o colesterol, pressão arterial e índice de açúcar – mesmo se você não tem parentes que morreram jovens. O médico também pode pedir exames adicionais para investigar a incidência de doenças cardíacas em estágios iniciais, como o exame de espessura da carótida íntima-média e o escaneamento do cálcio coronário.
“Embora nas mulheres os problemas cardiovasculares apareçam mais tarde do que no homem, aquelas com histórico familiar precisam estar atentas mais cedo”, orienta Miranda.
- O estresse pode ferir. Quando você se sente estressado, seu corpo libera adrenalina, que por sua vez aumenta a sua respiração, frequência cardíaca e pressão arterial. O hormônio cortisol também libera açúcares na corrente sanguínea, suprimindo funções não-essenciais em uma situação de “luta ou fuga”, de acordo com a Clínica Mayo.
Se o estresse for constante, a superexposição ao cortisol pode causar danos e também levar as pessoas a fazer escolhas de vida nada saudáveis, como beber muito álcool. “O estresse é uma das maiores causas de inflamação”, disse Steinbaum. A inflamação, por sua vez, desempenha um papel importante no entupimento das artérias, de acordo com a Harvard Heart Letter.
Em um estudo publicado em 2010, pesquisadores em Israel descobriram que os níveis de cortisol no cabelo – um sinal de estresse crônico – eram indicadores mais fortes de ataques cardíacos futuros do que os níveis de colesterol ou peso.
“O fator emocional é muito importante para a doença coronariana tanto para homens como para mulheres”, afirma o cardiologista. No entanto, a questão é um pouco pior para as mulheres nesse sentido, pois estudos indicam que elas têm maior probabilidade de desenvolver quadros de ansiedade do que os homens.
- Prevenção. De 80 a 90% das vezes, a doença cardíaca é evitável, principalmente se for diagnosticada rapidamente, diz Steinbaum. Se você apresentar alguns sintomas, pode precisar tomar medicação. “Mas você não tem que ter um ataque cardíaco e morrer”, diz ela.
As medidas de prevenção podem impedir que a placa nas suas artérias se torne grande demais ou fique instável. Elas também podem manter sua pressão arterial e os níveis de açúcar adequados, para não causarem problemas arteriais.
Miranda afirma que, na maioria dos casos, os infartos nas mulheres e nos homens são causados por fatores evitáveis. Os principais são os vilões já famosos: pressão alta, colesterol alto, obesidade, sedentarismo, diabetes, tabagismo e estresse.
- Agir agora. “Nunca é tarde demais para começar a se exercitar, mudar a dieta e ficar saudável”, diz Steinbaum. “Eu vejo isso o tempo todo – pessoas que nunca fizeram exercícios físicos, começam e se adaptam, e é incrível.”
Uma de suas pacientes se motivou a mudar quando acordou em seu 63º aniversário e percebeu que tinha a mesma idade que seu pai tinha quando morreu de um ataque cardíaco. Ela então descobriu que tinha colesterol muito alto e começou a levar a sua saúde a sério. “Ela tomou o controle de sua vida e provou que não tinha que ser uma vítima de sua história familiar”, diz Steinbaum.
Intuição das mulheres
A médica diz que muitos de suas pacientes lhe contam que tinham sentido que algo estava errado antes de um ataque cardíaco. “Em 90% das vezes, eu ouvi, ‘Sim, eu sabia, eu tinha a sensação de que era o meu coração’”, diz ela. Ou seja, confie nos seus instintos.
Ao mesmo tempo, se você é uma pessoa que tende a ver o “copo meio vazio”, é importante ter uma visão mais otimista sobre a vida. Não seja ansiosa nos seus julgamentos em assumir que coisas ruins vão acontecer. Steinbaum diz que ter uma atitude positiva pode fazer uma enorme diferença para o seu coração.
“Temos mais controle sobre a nossa saúde do que pensávamos. E não há nada melhor do que saber que você tem controle sobre o seu futuro “, diz Steinbaum.
Por desconhecerem a alta incidência das doenças cardiovasculares nas mulheres, muitas vezes elas não recebem o diagnóstico correto. “Costuma-se acreditar que a causa que mais mata mulheres é o câncer de mama, mas na verdade são o infarto e o AVC as mais frequentes”, explica Miranda. Por isso, na dúvida sobre seus sintomas, procure um cardiologista, que é o profissional mais indicado para detectar os possíveis riscos.
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