Como falar com o paciente idoso

comunicacao_geriatraUma boa comunicação médico-paciente é essencial para que o tratamento – seja qual for ele – seja bem-sucedido. Isso porque é por meio da comunicação que se firma o relacionamento entre ambas as partes. E não é necessário que o profissional da saúde tenha alguma característica especial, já que comunicar-se bem é uma habilidade que pode ser aprendida.
Além das dificuldades normais que podem surgir em qualquer consulta para que os termos médicos e técnicos sejam bem compreendidos pelo paciente, a fim de que este siga o tratamento de maneira correta, os geriatras encaram outros desafios no seu dia a dia. Isso porque seus pacientes podem ter problemas de memória e de audição, entre outros. “Para o geriatra isso não chega a ser uma surpresa, já que recebemos treinamento para isso durante a especialização”, explica a geriatra Ana Beatriz Di Tommaso. “No entanto, percebemos que os outros especialistas tendem a cometer equívocos, como considerar que o paciente idoso não é capaz de entender o que o médico está falando ou, ao contrário, levar a consulta em um ritmo rápido demais impossibilitando que o paciente acompanhe todas as orientações”, diz.
Para iniciar a conversa, lembre-se de que não se deve tratar o idoso como uma criança ou alguém incapacitado mentalmente. “A primeira coisa a se fazer é perceber a capacidade cognitiva do paciente. Se sentir que está tudo bem, o médico deve ir frente e continuar a consulta como faria com qualquer outro adulto”, explica a geriatra.
Algumas dicas para facilitar a comunicação durante a consulta:

  • Em primeiro lugar, tenha em mente que os idosos não são todos iguais e não estão na mesma condição de saúde.
  • Comece a conversa amigavelmente antes de abordar as questões de saúde.
  • Ouça o paciente e tente não interromper. Se a lista de queixas for longa demais, diga que dará prioridade para o que é mais significativo clinicamente, o que incomoda mais o paciente e, posteriormente, ao longo das outras consultas, vocês tratarão os demais temas.
  • Evite jargões, use linguagem clara e exemplos simples. Isso não significa usar gírias ou termos que podem não ser bem compreendidos. Cheque se o paciente e/ou acompanhante compreendeu.
  • Se possível, deixe tudo escrito e bem sinalizado na receita para não haver dúvidas sobre como tomar as medicações e a época correta de realização de exames.
  • Peça para que na próxima consulta o paciente traga tudo anotado: suas queixas, sintomas, medicamentos e exames.

 
Ultrapassando barreiras
Para a geriatra Ana Beatriz, o mais difícil na prática clínica é romper a barreira entre o profissional de saúde e o paciente. “Uma relação amistosa torna tudo mais fácil, até para dar más notícias”, diz.  Isso porque muitas doenças cognitivas e cerebrais podem ser retardadas quando diagnosticadas no início. Quando o médico consegue passar ao paciente a sensação de que algumas coisas podem ser controladas, a gravidade com que o diagnóstico é recebida diminui. “O paciente geriátrico sente que algo errado está acontecendo, que ele tem algum problema quando nos procura. Quando dizemos que é possível acompanhar e melhorar a qualidade de vida, já é um peso a menos para ele”, afirma.
Outra barreira, segundo a médica, é a diferença entre gerações – o médico mais jovem que o paciente. No entanto, isso só é um empecilho quando a linguagem do profissional não for adequada e nem sua postura profissional. “Não é aconselhável usar tênis, por exemplo. A roupa e a postura contam muito para lidar com o público mais velho”, orienta a geriatra.