Covid-19: o que levar em conta se seu familiar estiver em ILPI

Se você tem algum familiar vivendo em uma instituição de longa permanência (ILPI), é provável que tenha muitas dúvidas sobre o cuidado e o bem-estar dele durante a atual crise do coronavírus. Inclusive considerar levá-lo para casa pode ter sido uma das opções, já que as visitas estão suspensas.
“A angústia dos familiares cresceu muito sem o toque e sem poder ver seu familiar, já que os idosos dependentes e com demência mais avançada não têm acesso, em sua maioria, à tecnologia para telechamadas”, diz o psicólogo Caio Henrique Vianna Baptista, do Serviço de Psicologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, pesquisador do Programa de Prevenção a Quedas Brasil do Serviço de Geriatria do HC-FMUSP e consultor em Envelhecimento da Psicocare. “É mais difícil ainda quando a família já não tinha um vínculo de confiança estabelecido com a ILPI”, explica.
Embora a decisão seja difícil, é preciso pesar outras questões relativas à segurança do familiar, como, por exemplo, se a casa para onde será levado está apta e segura para recebê-lo. Isso inclui a presença de escadas, banheiros adaptados e corredores estreitos, por exemplo, se houver necessidade de locomoção de cadeirante.  Animais de estimação também não são indicados, pois representam possível risco para queda.
Muitos idosos em ILPI dependem de ajuda para as atividades diárias, como alimentação, higiene, vestuário e outros. Isso também precisa ser considerado em época em que as famílias estão trabalhando em casa e, ao mesmo tempo, cuidando de crianças. Além disso, se houver crianças na casa, pode aumentar o risco de exposição do idoso ao vírus, já que muitas são assintomáticas para covid-19.
Também considere se todos os membros da sua família são capazes de manter as práticas de higiene recomendadas, como lavar as mãos com frequência e limpar as superfícies da casa para reduzir o risco de infecção.
Em caso de pessoas com demências ou doença de Alzheimer, é preciso ficar ainda alerta em relação à dificuldade de adaptação em novo local.
Como uma mudança afetará sua família? É importante considerar o impacto de uma mudança sobre outros membros da família que assumirão novas responsabilidades, mesmo que não estejam envolvidos diretamente nos cuidados. A mudança de papeis pode ser um estressor. Se você decidir levar a pessoa de quem cuida para casa, todos na sua família devem sentir que foram informados com antecedência. Isso pode reduzir o estresse para todos.
Tudo isso deve ser levado em conta – e, ao final, manter o idoso na ILPI pode ser a opção mais adequada.
 
Em quais condições a remoção da ILPI pode ser inevitável?
Boa comunicação com a instituição é essencial. Se houver casos documentados nas instalações e os processos de controle de infecções forem inadequados (como equipamentos de proteção individual insuficientes ou sem quartos vazios para isolamento), convém considerar a possibilidade de mudar seu familiar.
E, nesse caso, informe-se sobre as condições e regras da ILPI para quando seu familiar retornar. É possível que a instituição exija que ele tenha o resultado de teste para Covid-19.
 
Perguntas a serem feitas à gerência da ILPI

  • Qual é a sua política de quarentena?
  • Como você está reduzindo o risco de infecção?
  • A equipe tem acesso a EPIs adequados para protegê-los contra infecções?
  • Eles têm suprimentos suficientes para “descontaminar”, conforme necessário?
  • A equipe é treinada sobre o uso apropriado de EPI?
  • Vocês estão examinando os membros da equipe quanto a sinais de doença?
  • Vocês estão educando os funcionários sobre como reduzir sua exposição ao coronavírus?

Por outro lado, Baptista diz que as ILPIs também podem ser proativas e fornecerem as informações de interesse aos familiares com maior frequência. “Antes, com as visitas, isso não era necessário. Agora, as ILPIs devem ligar diariamente para o familiar dando notícias e sendo transparente. Se houver um caso de covid na instituição, diga a verdade, sem dizer quem é o paciente. E assegure os familiares de que tem o controle para que a contaminação não se amplie”, orienta.
O psicólogo diz que instituições e famílias devem estar juntas nessa batalha. E não devem deixar de pedir ajuda sempre que necessário. “Funcionários das ILPIs também têm medo de levar covid para dentro das instituições, porque estabelecem laços não só de responsabilidade, mas também afetivos com os pacientes. Algumas instituições têm oferecido apoio psicológico para seus profissionais e sugerido o mesmo para familiares. Lembremos que há diversos serviços de psicologia sendo oferecidos gratuitamente ou por valores reduzidos para ajudar no enfrentamento à epidemia”, diz o especialista.
 
Parte do texto foi traduzido e adaptado de HealthinAging.org.