Dia Mundial de Cuidados Paliativos: uma reflexão

cp 12outDia 12 de outubro é o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos e, neste ano, o tema da campanha é “Meu Cuidado. Meu Direito”, divulgado pela World Hospice Palliative Care Alliance (WPHCA).
O tema da campanha coloca em evidência que cuidados paliativos são uma parte fundamental dos cuidados de saúde e um direito humano. Seu objetivo é aliviar o sofrimento e a dor em qualquer momento do processo de adoecimento de uma pessoa com doenças ameaçadoras da vida, e não somente no final da vida, a fim de melhorar a qualidade de vida, independente da idade e do estágio da doença.
Vale também enfatizar a importância de priorizar o financiamento dessa área na cobertura universal de saúde. É fundamental que os cuidados paliativos façam parte da educação e da alma de todos os profissionais de saúde, que tenham como missão primordial cuidar de pessoas.
Frente à revolução da longevidade e a inovação tecnológica, é expressivo o aumento da incidência e da prevalência de doenças crônico-degenerativas, tais como doença pulmonar obstrutiva crônica, insuficiência cardíaca, doenças cerebrovasculares, demências, doença renal crônica, doença hepática avançada e de neoplasias em idosos. Essas doenças, muitas vezes irreversíveis e incuráveis, podem adiar a morte, num processo de morrer prolongado e às vezes doloroso, principalmente para essa população. Assim, falar sobre morte, escolhas de tratamentos e terapias após a perda da capacidade funcional ou mesmo aceitar o estado terminal de uma doença pode ser muito difícil para os pacientes e seus familiares. Nesse contexto, os cuidados paliativos são uma importante ferramenta para ajudar a compreender melhor o conceito de finitude e facilitar o viver bem, mesmo com uma condição terminal.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, os cuidados paliativos se apresentam como um recurso necessário e fundamental para o acompanhamento e o bom controle de sintomas e outras demandas que possam acometer um paciente com doença potencialmente incurável, colocando o indivíduo e sua família como o centro do cuidado e levando em conta o conhecimento de sua biografia, seus valores e seus desejos de final de vida. Independentemente do processo de morte ocorrer em meio à mais sofisticada medicina ou com o cuidado mais básico de saúde, as necessidades são comuns entre todos os seres humanos: conforto, dignidade e amor.
O momento ideal de iniciar cuidados paliativos é quando o paciente ou a família está em sofrimento físico ou emocional diante de uma doença ameaçadora da vida e precisa lidar com isso. Essa abordagem deve se manter concomitante ao tratamento modificador de doença e crescer em proporção em relação a ele, na medida em que se aproxima da fase final de vida, completando seu objetivo com os cuidados com os familiares após o óbito.
Quando compreendemos e aceitamos que a morte existe e que faz parte do ciclo da vida, surge a urgência da vida.
Ana Laura de Figueiredo Bersani, geriatra e paliativista, diretora da SBGG-SP