Relatos de engasgo são muito comuns, em especial na terceira idade. É uma manifestação do organismo que pode ocorrer por diversas causas e ser bastante perigosa. Prova disso é que entre os anos de 2007 e 2010, o engasgo com a comida ocasionou a morte de 2.114 pessoas com mais de 65 anos nos Estados Unidos, segundo dados do Centro para Controle e Prevenção de Doença desse país. A frequência de mortes por engasgo, seja por asfixia ou pneumonia por aspiração, é muito maior na terceira idade do que em qualquer outra faixa etária.
Nos idosos, a chamada disfagia – definida como qualquer dificuldade na condução do alimento da boca até o estômago em todas as suas fases – é mais comum e tem o engasgo como um de seus sinais mais evidentes. A causa mais comum é o refluxo gastroesofágico, que acontece quando o alimento entra no estômago, se mistura com o suco gástrico e retorna um pouco em direção ao esôfago, podendo irritar sua mucosa ou a da garganta, causando engasgo ou tosse seca. “Essa é uma das causas mais comuns tanto em idosos como em adultos a partir dos 40 anos”, explica a fonoaudióloga Tereza Bilton, especialista em Gerontologia e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Acima dos 60 anos, além do refluxo, há causas mecânicas que se tornam mais comuns, como divertículo de Zenker (uma espécie de hérnia na mucosa da faringe), discinesia esofágica (transtornos nos movimentos do esôfago) e hérnia de hiato (quando uma pequena porção do estômago se projeta para fora do diafragma por meio do hiato).
No entanto, depois dos 80 anos, as ocorrências de engasgo mais comuns são nas chamadas fases faríngea e esofágica da deglutição do alimento ou líquido. Na faringe, quando o alimento, ou mais comumente o líquido, em especial a água, vai, como se diz popularmente, pelo caminho errado. Ou seja, ao invés de seguir pela faringe e descer ao estômago via esôfago, ele entra erroneamente na laringe. “Quando há a penetração de um alimento ou líquido pela laringe, ela reage protetivamente, fazendo com que a pessoa tussa ou engasgue para retirar o invasor”, explica a fonoaudióloga. Essa seria uma medida preventiva do corpo para que o alimento não passe da laringe para a traqueia, atingindo brônquios e pulmões. “Nas doenças neurológicas do envelhecimento, como demências e Parkinson, é maior a probabilidade de isso acontecer”.
Acima dos 90 anos, a queixa de engasgo, em especial com líquidos, é ainda mais frequente e perigosa. Nesse caso, porque a musculatura da deglutição torna-se mais hipotônica, há rebaixamento da laringe e o sistema de proteção das vias áreas fica menos eficiente. “Isso ocorre mesmo nos nonagenários sem doenças neurológicas. É uma mudança mesmo do envelhecimento”, explica a especialista.
É importante ressaltar que uma das primeiras formas de prevenção da disfagia é a manutenção dos dentes naturais, já que é na boca que se inicia a deglutição. “Precisamos ter em mente que o pescoço e a boca também são músculos e se beneficiam de atividade física”, diz Tereza. Por isso, uma avaliação fonoaudiológica preventiva também é bastante eficaz em idosos saudáveis e adultos para detectar possíveis problemas e já tentar evitá-los por meio de exercícios orais específicos.
Fique atento à disfagia
A detecção do problema é multiprofissional e alguns sinais não podem ser ignorados, já que nem sempre são normais ao envelhecimento. Preste atenção e comunique ao médico, fonoaudiólogo ou outro profissional da saúde se:
- o idoso tiver alguma doença de base, como diabetes, Parkinson, Alzheimer ou demência
- sinais de aspiração de líquidos ou alimentos
- complicações pulmonares
- problemas na alimentação.
Se necessário, para fechar o diagnóstico, o fonoaudiólogo poderá indicar exames de imagem como videoendoscopia da deglutição e o videodeglutograma (estudo da deglutição).