Gênero e velhice

Foto CRI Norte
Foto CRI Norte

Na quarta-feira, dia 21, o Ensaios sobre o EnvelheSER, evento realizado pelo CRI Norte (Centro de Referência do Idoso da Zona Norte) com apoio da SBGG-SP e da revista Aptare, recebeu a cartunista Laerte Coutinho e a psicanalista Letícia Lanz para uma conversa sobre gênero e velhice.
Ambas as convidadas deram seus depoimentos sobre sua transição de vida como mulheres transexuais e discutiram como o conceito de gênero pode ser limitador para as pessoas cuja identificação de gênero não coincide com o sexo com o qual nasceram fisicamente.
As convidadas contaram como sofrem e sofreram duplo preconceito por se reconhecerem como mulheres e por serem idosas. “A pior rejeição que sofri foi nos movimentos travestis, que diziam que eu era apenas um velho querendo me vestir de mulher”, conta Letícia, que vê o envelhecimento de forma bastante positiva. “Envelhecer é sinônimo de vida, sinal que estamos vivos. No entanto, velho sofre pressão por conta de tudo, não somos só nós, transgêneros”.
Sobre a relação com o corpo, Laerte conta que entendeu o seu após a primeira vez que se depilou inteiramente, logo no início do seu processo de transição. “Foi algo que mudou completamente meu corpo. Não estou convencida a fazer implante de seios e não me sinto mal com minha genitália. Me olho no espelho e me entendo como um ser humano cujo corpo passa por transformações, inclusive da idade, e isso não me desagrada”, contou Laerte. “Estou gostando de envelhecer.”
Letícia disse que acredita que o ser humano, por ser tão complexo, pode não se identificar com o mesmo gênero ou com a mesma orientação sexual pela vida toda, embora ela tenha já se percebido aos três anos de idade como menina. “Como nossa sociedade identifica sexo e gênero, isso acaba naturalizando na identidade de cada, mas nem sempre isso funciona assim. Há muito mais gêneros do que homem e mulher e esse é um conceito fluido. Por isso, muitas pessoas, quando estão mais velhas acabam se libertando mais e se questionam ‘cadê eu?’ porque não se identificam mais da mesma maneira”, conta.
Diante de números dos Estados Unidos sobre o preconceito – e desconhecimento – sofrido por pessoas transexuais naquele país por parte de médicos e profissionais de saúde, ambas afirmam que, para elas, a realidade é diferente. “Criança tem pediatra e velho tem geriatra. No meio disso, a gente tem que ir a um monte de especialistas. Então, em termos de atendimento, é uma vantagem ser velha e ter um médico com formação geral para cuidar da gente”, brincou Laerte.