Uma das conferências da tarde de sexta-feira teve como tema as diversas possibilidades de moradia no envelhecimento.
A assistente social Mariana Ferreira Melo dos Santos, da Secretaria de Habitação da Prefeitura de São Paulo, começou falando sobre a Vila dos Idosos – Pari I, dentro do programa de Locação Social da mesma secretaria.
O Programa de Locação Social, segundo a especialista, tem como objetivo ampliar as formas de acesso a pessoas e famílias de baixa renda (até três salários mínimos) do município de São Paulo que não podem ou não querem entrar em sistemas de financiamento habitacionais. São unidades habitacionais construídas pelo e pertencentes ao poder público municipal. A prioridade são pessoas acima dos 60 anos, em situação de renda, deficiência ou moradores de área de risco ou de insalubridade.
Por isso desenvolveram um empreendimento específico, a Vila dos Idosos. No total são 903 unidades habitacionais, das quais 145 na Vila dos Idosos – Pari I. As outras moradias são mistas – também atendem idosos, mas não são exclusivos. O Palacete dos Artistas, com 50 unidades habitacionais, também atende idosos acima dos 60 anos, mas eles devem ser da classe de artistas.
O Vila dos Idosos situa-se no bairro do Pari, sob abrangência da Prefeitura Regional Mooca, com estrutura como unidades básicas de saúde, delegacia de polícia, comércio, entre outros. São cerca de 8 mil metros quadrados, com 145 unidades habitacionais em quatro pavimentos. São 72 quitinetes (sala, cozinha, área de serviço e banheiro) e 48 apartamentos com um quarto. Desses, 9 apartamentos e 16 quitinetes são adaptadas para pessoas com deficiência. Conta ainda com área de uso comum, como horta comunitária, espelho d´água, áreas verdes, salão de festas, lavanderia e quadra de bocha. Cada bloco conta com um elevador, num total de 3 deles.
Segundo levantamento realizado em 2016, há um total de 153 moradores – sendo 92 mulheres e 61 homens. A faixa etária mais expressiva é de 70 a 79 anos (48,4%), refletindo a população que deu entrada no início do empreendimento, há cerca de 10 anos. Ainda, 30,6% dos moradores têm entre 80 e 89 anos e 2%, acima de 90. “Os mais idosos têm sido um desafio para nós, já que o morador é responsável pelos cuidados de sua unidade e 70% deles vivem sozinhos”, contou. Quase 60% deles têm o ensino fundamental incompleto e 45,1% se diz solteira e 30,9% viúvo.
República para idosos
Celiana Souza Nunes, da Secretaria de Assistência Social da Prefeitura de Santos, apresentou a República para Idosos, programa de moradia no qual o idoso tem autonomia e liberdade num modelo alternativo com formato de residência, e não instituição. A inauguração foi em 1996 e o projeto foi desenvolvido após reivindicações pró-moradia. Foi criada ainda uma rede de apoio nas áreas social, cultural e de saúde. Os moradores têm a partir de 60 anos, de ambos os sexos, com autonomia e independência, residindo anteriormente em moradias precárias ou insalubres, com renda de até dois salários mínimos. “Na prática, em média, eles recebem um salário”, disse. Quanto aos aspectos familiares, os idosos devem ser sozinhos na cidade ou rompidos com a família para serem elegíveis.
No processo seletivo é feita uma visita domiciliar, entrevista e uma sensibilização para o convívio coletivo. Em caso de mais de uma vaga, é possível escolher o quarto, com dois moradores por quarto. Cada idoso pode levar seus próprios móveis e, assim, cada dormitório pode ser customizado de acordo com os moradores. Caso os idosos não tenham móveis, a Secretaria busca por doações.
Eles recebem cópia do regulamento interno, chaves do imóvel, valor do aluguel (R$ 110) e são divididas as despesas de água e luz, somando um total de cerca de R$ 200 de despesas. São feitas assembleias nas casas para discussão de problemas de convivência, distribuição de tarefas, gerenciamento de contabilidade, entre outros. Há ainda atendimentos individuais para questões que os idosos não queiram tratar na assembleia.
Também estão disponíveis acompanhamento e encaminhamento para serviços de saúde sempre que necessário ou solicitado. São 3 unidades com capacidade para 29 idosos no total. Uma funcionária da Secretaria realiza a faxina, mas as demais atividades são divididas pelos moradores.
A maioria dos moradores são mulheres, com faixa etária entre 70 e 79 anos. A faixa de escolaridade é predominantemente o ensino fundamental incompleto. Já passaram pela república 225 idosos. Muitos trocam de república (44 deles) e 38 foram para ILPI, 22 saíram e retornaram (alguns foram morar sozinhos e voltaram), 35 foram morar sós, 33 retornaram à família (a maioria depois que se tornaram dependentes).
Quando e se o idoso se torna dependente, ele é transferido para uma ILPI, com acompanhamento da Secretaria de Assistência Social. “É difícil porque passam da situação de independência para serem cuidados”, contou.
O idoso que mora sozinho
A assistente social Naira Dutra Lemos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista em Gerontologia pela SBGG, apresentou a questão da moradia para o idoso que vive sozinho. Ela citou pesquisa da ONU, de 2005, de que em 130 países, um em cada 7 idosos no mundo mora sozinho, dos quais 2/3 são mulheres. O último censo brasileiro mostrou que 13% da população idosa vive só. “O triste é que não há nenhuma política pública pensando sobre isso”, lamenta. No Projeto Longevos, da Unifesp, dos 186 idosos em atendimento, 23% moram sozinhos.
Ela enumerou situações que levam a essa formação de domicílios unipessoais: vivia em casa com filhos (os filhos saíram da casa ou houve morte dos pais e a pessoa acabou envelhecendo sozinha), casal sem filhos (separação ou morte do cônjuge), indivíduo vivendo sozinho quando jovem e permanece vivendo sozinho, indivíduo vivendo com familiares e amigos, sai para morar sozinho ou amigos e familiares saem. “Morar sozinho pode ser opção ou pode ser consequência de uma configuração familiar”, disse Naira. “O ideal seria que morassem sozinhos e fossem independentes, mas há idosos em condições desfavoráveis de saúde, com ausência de suporte familiar.”
A especialista mostrou ainda alguns estudos que apontam que muitos idosos estão satisfeitos vivendo sozinhos e se sentem realizados. “Pode ser que os estudos tenham sido feitos com idosos independentes que moram só, mas precisamos considerar outros aspectos como suporte social e a capacidade funcional”, explicou.
Isso inclui pensar se há a quem recorrer em caso de necessidade, a capacidade para ir ao banco, fazer compras, entre outras atividades. “Pensando nesses dois eixos, é preciso avaliar até quando ele consegue viver só”, afirmou. Naira lembra que nos serviços de atendimento ao idoso é preciso que os profissionais procurem saber e conhecer o suporte social do idoso – família, amigos, comunidade e Estado – e a qualidade dele. Isso porque é preciso ter alguém para chamar quando o profissional de saúde percebe que há um sinal de que ele precisa ter suporte – se não tomou remédio porque não tem condições mais de sair para comprar, por exemplo.
É possível, segundo Naira, morar só, mas é preciso buscar garantir laços sociais e/ou familiares se existir, preservar a segurança ambiental (acessibilidade), garantir um mínimo de apoio em situações de emergência, um mínimo de independência financeira, conhecer suas limitações e dificuldades e ter conhecimento de recursos sociais disponíveis.
Cohousing ou co-lares
A arquiteta Lilian Avivia Lubochinski apresentou a modalidade de moradia nascida na Dinamarca na década de 1970 e que ela trouxe ao Brasil em 2013, que recupera o sentido de viver em comunidade. “Estamos voltando a aprender a conviver em comunidade, em círculo”, disse. “Esse movimento tem sido chamado de comunidade intencional, formado por pessoas que se aproximam uma das outras com o objetivo de retomar esse conceito”. Exemplos citados foram as repúblicas, as ecovilas, as comunidades religiosas e o co-housing.
Segundo a especialista, essa é uma percepção sistêmica, de que o movimento de um afeta o outro. As características da comunidade devem ser: todos se sentem em casa, todos se conhecem, o nome de casa pessoa é conhecido, compartilham interesses e têm objetivos em comum. No cohousing ou co-lares, o indivíduo pode morar sozinho e ter uma área em comum ou casas agrupadas ou prédios, por exemplo. Os tipos de edificações são variados, mas a principal característica de co-housing é conseguir unir autonomia e comunidade. Citando Antonio Kehl, a especialista explicou de forma simples o conceito de cohousing: “tenho a opção da solidão e o privilégio da convivência”.
A proposta do cohousing está implicada no conceito de arquitetura social, que busca fazer as pessoas viverem em comunidade. São arranjos sociais não hierárquicos e autogeridos. O projeto deve ser feito de maneira participativa, com construção a preço de custo.
“Em um cohousing, a pessoa vive mais e com mais qualidade de vida, com declínio mais lento”, diz. “O desafio da convivência contribui para isso, pois a pessoa está sempre discutindo, vivendo de forma colaborativa, fazendo o que gosta e trocando pelo talento de outras pessoas.”
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