Um dos principais destaques do GERP.15, que reuniu cerca de 2 mil pessoas entre 19 e 21 de novembro, foi a presença dos palestrantes internacionais.
Um dos profissionais estrangeiros convidados para o congresso foi Catherine Sherrington, pesquisadora e vice-diretora do Programa de Deficiência Física Voltada Para o Envelhecimento da Divisão Músculo-Esquelética da Universidade de Queensland, na Austrália. A fisioterapeuta também atua como pesquisadora e investigadora-chefe em outros quatro grandes centros de pesquisa médica e de saúde nacional no país. Sua linha de pesquisa foca na criação e na avaliação de programas de exercícios para prevenção de quedas e incapacidade física em idosos.
Durante o GERP.15 Catherine abordou os temas “Prevenção de quedas em idosos com demência”, “Fratura de quadril: manejo pós-alta hospitalar” e “Novas tecnologias para prevenção e reabilitação de quedas em idosos”. Confira a seguir uma breve entrevista com a especialista.
As quedas em idosos tornaram-se um tema de extremo interesse no campo do envelhecimento. Para onde estamos indo em termos de pesquisa de prevenção?
Sabemos muito sobre a prevenção de quedas na comunidade em geral em países mais desenvolvidos e com mais recursos, mas acredito que precisamos saber muito mais sobre prevenção de quedas em populações de risco muito alto, como pessoas com condições clínicas particulares, doença de Parkinson, acidente vascular cerebral, bem como idosos que foram hospitalizados recentemente, idosos em instituições de longa permanência e também aqueles em ambientes com poucos recursos. Também sabemos pouco sobre prevenção de quedas em hospitais. Assim, embora saibamos muito, ainda há muitas perguntas que precisamos responder.
Já existem algumas promessas para esses grupos, particularmente de pacientes com doença de Parkinson, que envolvem a prática de tai-chi e dança. Parece que as mesmas medidas que impedem quedas na comunidade em geral podem funcionar em pessoas com Parkinson, mas vale lembrar que esses pacientes podem sofrer de 10 quedas por dia, portanto trata-se de uma população de fato diferente.
Um dos principais fatores de risco para quedas é a primeira queda. O que pode ser feito para evitá-la? Como abordar a questão de maneira multidisciplinar?
Nós realmente precisamos encarar a prevenção de quedas como uma questão de saúde pública, parte da manutenção de um estilo de vida saudável e ativo ao longo da vida, particularmente com o exercício como intervenção única. Temos fortes evidências de que o exercício pode prevenir quedas na comunidade geral e precisamos de muito mais consciência sobre a importância do exercício com o aumento da idade no nível da comunidade. Também é importante prestar atenção a outros fatores de risco, tais como catarata, polifarmácia, etc. Quanto à abordagem multidisciplinar, é preciso sensibilizar os diferentes profissionais sobre a importância desses fatores na prevenção de quedas, especialmente da primeira queda.
Os idosos muitas vezes evitam situações sociais por causa do medo de cair. Como conciliar esse medo e a segurança?
Às vezes pensamos que o medo de cair é algo ruim, mas às vezes o que ele realmente representa é as pessoas conscientes dos seus riscos de queda. Portanto, algumas vezes os idosos estão de fato certos por terem medo, porque têm maior risco de cair. Por isso, precisamos ter cuidado: queremos incentivar as pessoas a terem atitudes seguras, mas isso se torna um problema se elas começarem a se isolar e evitar situações desnecessariamente. Assim, em termos de conciliar o medo e a segurança, precisamos encorajar as pessoas a ter consciência de quedas, tomar cuidado, especialmente quando estão ao ar livre, e estar ciente dos perigos. Ao mesmo tempo, eles não podem ficar paranoicos ou limitar demais suas atividades. Estamos falando de uma mobilidade autoconsciente.
Há muitos programas de prevenção de quedas eficazes, em especial em países desenvolvidos. Como adaptá-los a ambientes com menos recursos, particularmente quando se trata de tecnologias?
Creio que este é um desafio-chave e nos remete novamente de volta para a conscientização da comunidade, observando outras formas de oferecer intervenções eficazes que não girem tanto em torno da tecnologia, mas do exercício e da triagem. Uma possibilidade é treinar pessoas menos qualificadas para fazer alguns dos trabalhos ou fazer atividades de promoção da comunidade. Sei que o Brasil tem programas maravilhosos de exercícios na comunidade. Acho isso fantástico em nível comunitário e não envolvem tantos cistos.
No que diz respeito à tecnologia, acho que ela está melhorando muito. Tecnologias adequadas estão se tornando cada vez mais acessíveis e devem ficar cada vez mais baratas.
Fraturas: como podemos reduzir o tempo de recuperação após uma fratura?
Acho que isso se resume a encontrar formas mais baratas de oferecer intervenções ao invés de manter as pessoas no hospital por longos períodos de tempo. É possível encaminhar os idosos de volta para casa, mas ensinar seus familiares ou cuidadores como fazer o exercício adequado com eles. Podemos manter a família em contato com os profissionais de saúde por telefone ou Skype para proporcionar maneiras mais baratas de intervenção, mas é preciso ter o cuidado de testá-las. Precisamos de estudos randomizados controlados de adaptação dessas intervenções eficazes em ambientes de baixos recursos. Minha colega Mônica Perracini está coordenando uma pesquisa e não conseguiu encontrar outros estudos registrados em países de baixa ou média renda, de modo que o Brasil está liderando o caminho. Porém, ainda precisamos de muito trabalho nesse sentido.
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