Mais idosos, poucos geriatras

geriatraUm indicador da melhoria de vida de um povo é o envelhecimento da população. A Organização das Nações Unidas estima que, em 2050, uma pessoa a cada 5 terá mais de 60 anos, quase o dobro da relação atual de um para 9. Isso significa que, em 2050, haverá pela primeira vez mais idosos do que crianças e jovens abaixo dos 15 anos no planeta. No Brasil, o panorama não é diferente. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os idosos são 23,5 milhões, o equivalente a 12,1% da população total.
Apesar de ser uma parcela bastante significativa da população e com demandas de saúde específicas, no país, o número de geriatras – médico especialista no cuidado de pessoas idosas – ainda é muito pequeno. Segundo dados do Conselho Federal de Medicina, endossados pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), há 1.405 geriatras no Brasil. Ou seja, um para cada 24 mil idosos – sendo que a Organização Mundial da Saúde recomenda que essa relação seja de um para 1.000 idosos.
Além do baixo número de profissionais, há uma concentração na região Sudeste, onde estão 824 deles. Metade disso só no estado de São Paulo. “Há vagas de residência médica sobrando para essa especialidade”, conta a geriatra Renata F. Nogueira Salles, presidente da SBGG-SP. “Precisamos divulgar o envelhecimento ativo e bem-sucedido para os estudantes do ensino médio e instituir o tema como especialidade obrigatória na grade científica do curso de graduação em medicina, despertando o interesse por esta especialidade”, afirma.
A falta de profissionais é tema urgente, porque a população idosa apresenta características peculiares que demandam conhecimentos diferenciados por parte do médico no que diz respeito a diagnóstico e manejo terapêutico das doenças crônicas mais comuns que surgem com a idade. “É uma população que apresenta risco aumentado de incapacidade funcional, fragilidade e piora da qualidade de vida”, diz a médica. “Por isso, esses pacientes devem ser avaliados de maneira multidimensional e interdisciplinar, algo que faz parte da formação do geriatra”.
Diante da demanda de idosos e do número restrito de geriatras, a especialista afirma que é fundamental a divulgação do conhecimento e a capacitação de profissionais clínicos, além da parceria e troca de saberes com outras especialidades médicas, a fim de diminuir o fosso no atendimento ao idoso. “Há consequências por conta da falta desse atendimento diferenciado, da deficiência de profissionais especializados, de estrutura física e da disponibilidade de exames complementares”, diz a médica. “Isso tudo pode elevar os custos por piorar a saúde dos pacientes, aumentando as complicações, o número e o tempo de internações”.
A exemplo de muitos países, a especialista defende que, como política pública, seja criada no Brasil uma rede integrada de Atenção à Saúde do Idoso, unindo os níveis de atenção, primário, secundário e terciário, evitando o olhar fragmentado a essa população.