Ações artísticas conscientizam sobre violência contra idoso

Imagine-se em seu carro, parado no trânsito, o farol fechado por minutos que parecem uma eternidade, quando um casal idoso para na faixa de pedestres e lá, na sua frente, acontece um pedido de casamento, com direito a dança e confete.
Ou, enquanto você espera o sinal de pedestres abrir, um idoso na faixa de segurança grafita num painel a pergunta: “O que é invisível na cidade?”
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Esses episódios aparentemente fora de lugar fazem parte da intervenção Na Faixa, do Coletivo Pi, que procurou, através de esquetes, chamar a atenção para a questão do idoso no Brasil. A iniciativa faz parte da Campanha de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, promovida pelo SESC São Paulo, com o mote “Em 2050 seremos muitos. O cuidado começa agora”.
Com seis intervenções diárias em diferentes semáforos da capital e do interior paulista, o Coletivo Pi conta com a participação de quatro idosos em suas apresentações, com o objetivo de criar ações e imagens que sensibilizem para questões pertinentes à terceira idade, quebrando estereótipos e revelando encontros de gerações.
“Já temos seis anos de atuação e nosso maior foco é trabalhar com ações artísticas na rua. Criamos cenas e momentos inusitados que interferem no cotidiano das pessoas na cidade”, explica Priscila Toscano, diretora do grupo.
Além das esquetes, os integrantes do coletivo entregam para motoristas e pedestres cartões postais com fotos da ação e um poema de Jefferson Santana sobre a relatividade do tempo. Enquanto isso, pessoas param para observar. Diante da cena que dispensa o domínio do português para ser entendida, um turista estrangeiro pergunta: “O que está acontecendo?! Interessante…”.
A experiência também é gratificante para os próprios integrantes do grupo.
“Fui convidado porque conheço as meninas do Coletivo Pi e hoje tenho o prazer de participar com elas desse trabalho”, conta o ator convidado José Luís, de 65 anos. “Estou percebendo que as pessoas estão assimilando a mensagem, que é o mais importante. O envelhecimento é um tema com que todos devem se preocupar, já que vai acontecer naturalmente para todo mundo. Para mim é ótimo estar aqui.”
A campanha de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa teve início no dia 13 e segue até dia 19, sexta-feira, com atividades programadas em diversas cidades do estado de São Paulo. Ela acontece por ocasião do Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, no dia 15 de junho.
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Ponta do iceberg
A violência contra o idoso se apresenta de muitas formas além da agressão física. Encaixam-se nessa categoria o abuso psicológico, sexual, abandono, negligência, abusos financeiros e autonegligência. Todos esses tipos de ação ou omissão podem provocar lesões graves físicas, emocionais e morte.
Dessas, os abusos físicos são a forma de violência mais visível e geralmente acontecem na própria casa do idoso ou na casa de sua família. Das denúncias recebidas pelo “Módulo Disque Idoso” do “Disque 100 Direitos Humanos” as agressões físicas correspondem a 34% do total das queixas, vindo em quarto lugar, depois das negligências, dos maus tratos psicológicos e dos abusos econômico, financeiros e patrimoniais.
O Manual de Enfrentamento à Violência contra a Pessoa Idosa, da Secretaria de Direitos Humanos, traz números preocupantes em relação à violência contra o idoso no Brasil: 24.669 idosos morreram em 2011 por violências e acidentes (o que corresponde a 68 pessoas por dia) e 169.673 deram entrada em hospital por quedas, traumas de trânsito, envenenamentos, agressões, sufocações, tentativas de suicídio em 2012.
A publicação destaca, porém, “a violência contra a pessoa idosa é muito mais intensa, disseminada e presente na sociedade brasileira do que as estatísticas conseguem registrar.”
Um dos pontos ressaltados no Manual é o fato de os números apresentados se referirem exclusivamente às mortes ou morbidades registradas no sistema de saúde ou de segurança pública: “Podemos dizer que os dados estatísticos constituem apenas a ponta do iceberg numa cultura cheia de conflitos geracionais e de dificuldades socioculturais, de saúde, assistência e segurança que a pessoa idosa tem que enfrentar.”
Por Fernanda Figueiredo