Novas recomendações para o paciente com Alzheimer

A Alzheimer’s Association, dos Estados Unidos, lançou novas recomendações de cuidados para a demência, destinadas a indicar o caminho para profissionais de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) e cuidadores que lidam com pacientes e suas famílias, além de profissionais das áreas de geriatria e gerontologia. O intuito é oferecer uma boa qualidade de vida aos pacientes.
As recomendações foram publicadas no site da instituição, como complemento da revista The Gerontologist, publicada pela The Gerontological Society of America.
As recomendações contêm 56 diretivas em 10 áreas de conteúdo. O The Gerontologist traz um artigo sobre cada área de conteúdo, fornecendo evidências e pareceres de especialistas em cada recomendação.
Essas recomendações foram desenvolvidas por 27 especialistas convidados pela Alzheimer’s Association e baseiam-se em uma revisão abrangente de evidências anteriores, com melhoria nas práticas.
Estima-se que quase 60% dos idosos com doença de Alzheimer ou outras demências nos EUA residam em suas próprias casas ou de familiares (ou seja, fora de um hospital ou ambiente clínico). Cerca de 25% dessas pessoas vivem sozinhas, enquanto o restante recebe assistência de familiares, cuidadores não remunerados e cuidadores comunitários. A partir dos 80 anos, 75% das pessoas com demência de Alzheimer são admitidas em ILPIs. Por isso, as novas recomendações visam a orientar os cuidados baseadas nessas configurações de moradia.
Além de atualizar e aprimorar as recomendações anteriores, as novas diretrizes são centradas principalmente nas orientações para cuidadores na detecção do diagnóstico e no gerenciamento médico contínuo. As recomendações nessas duas áreas são escritas especificamente para não-médicos e abordam o que essas pessoas podem fazer para ajudar nesses importantes aspectos.
Outras áreas abrangidas pelas recomendações incluem fundamentos de cuidados centrados na pessoa; avaliação e planejamento de cuidados; informação, educação e apoio; atenção contínua aos sintomas comportamentais e psicológicos da demência; apoio às atividades na vida diária; pessoal de apoio; ambientes de apoio e terapêuticos; transições e coordenação de serviços.
Em conjunto com as novas recomendações, a Alzheimer’s Association está lançando um outro relatório, que examina os cuidados pelo ponto de vista das pessoas que vivem com a doença. O Guia de Cuidados de Qualidade sob a Perspectiva das Pessoas que Vivem com Demência inclui dados de questionários e entrevistas com indivíduos que se encontram no estágio inicial de Alzheimer ou outras demências. Ele oferece informações sobre como as pessoas mais afetadas pela doença entendem o que são cuidados de qualidade e o que elas esperam dos cuidadores durante sua difícil jornada.
Atualmente, estima-se que 5,5 milhões de americanos vivam com a doença de Alzheimer. É a sexta causa de morte e a única doença entre as 10 principais causas de morte que não pode ser prevenida, curada ou mesmo desacelerada. É estimado que esse número chegue a 14 milhões em 2050, caso não sejam desenvolvidos tratamentos mais eficientes.
Conheça as 56 novas diretrizes:
Recomendações da prática para cuidados centrados na pessoa

  • Conheça a pessoa que vive com demência;
  • Reconheça e aceite a realidade da pessoa;
  • Identifique e aproveite oportunidades contínuas para um envolvimento significativo;
  • Construa e crie relacionamentos autênticos e carinhosos;
  • Crie e mantenha uma comunidade de apoio para indivíduos, famílias e funcionários;
  • Avalie regularmente as práticas de cuidados e faça as mudanças apropriadas.

 
Recomendações de prática para o diagnóstico

  •  Torne as informações sobre saúde cerebral e envelhecimento cognitivo disponíveis para os idosos e suas famílias;
  •  Conheça os sinais e os sintomas do comprometimento cognitivo e seja consciente que eles não constituem um diagnóstico de demência e que uma avaliação diagnóstica é essencial;
  • Ouça as preocupações do idoso com sua cognição, observe sinais e sintomas de comprometimento cognitivo e note mudanças na cognição que possam ocorrer abruptamente ou lentamente ao longo do tempo;
  • Desenvolva e mantenha procedimentos de rotina para a avaliação da cognição e encaminhamento para avaliação diagnóstica;
  • Use um breve teste de estado mental para detectar o comprometimento cognitivo;
  • Incentive os idosos a fazerem uma avaliação diagnóstica, caso haja indicação médica;
  • Procure conhecimento para compreender melhor um diagnóstico de demência. 

 
Recomendações para uma avaliação correta e planejamento de cuidados

  •  Faça avaliações regulares e abrangentes e avaliações específicas;
  • Use a avaliação como uma oportunidade para a coleta de informações, construção de relacionamento, educação e apoio;
  • Realize um planejamento de abordagem colaborativa e de equipe;
  • Use a documentação e os sistemas de comunicação para facilitar a troca de informações entre todos os cuidadores;
  • Incentive o planejamento antecipado para otimizar o bem-estar físico, psicossocial e fiscal do paciente, assim como para aumentar sua conscientização de todas as opções de cuidados, incluindo cuidados paliativos e internação.

 
Recomendações de prática para o gerenciamento médico

  •  Faça uma abordagem holística e centrada na pessoa, visando abarcar uma ação positiva para o apoio às pessoas que sofrem de demência e seus cuidadores, para que reconheçam a importância dos cuidados médicos contínuos para o seu bem-estar e qualidade de vida;
  • Procure compreender o papel dos cuidadores e as suas contribuições para o paciente;
  • Conheça sobre as comorbidades comuns do envelhecimento e da demência e incentive as pessoas que sofrem de demência e suas famílias a conversarem com o médico sobre como gerenciar essas comorbidades;
  • Incentive as pessoas que têm demência e suas famílias a usarem, como  primeiras opções, intervenções não-farmacológicas para sintomas comportamentais e psicológicos comuns da doença;
  • Compreenda e apoie o uso de intervenções farmacológicas, quando necessárias, para a segurança, o bem-estar e a qualidade de vida do paciente;
  • Trabalhe com a pessoa que sofre de demência, a família e o médico para criar e implementar um plano centrado na pessoa para possíveis crises médicas e sociais;
  • Incentive as pessoas que vivem com demência e suas famílias a iniciar discussões de cuidados para o fim da vida.

 
Recomendações práticas para informação, educação e apoio para pessoas que vivem com demência e seus cuidadores

  •  Forneça educação e apoio no início da doença para o paciente se preparar para o futuro;
  • Incentive os cuidadores a trabalharem juntos e planejarem juntos;
  • Construa programas culturalmente sensíveis que sejam facilmente adaptáveis ​​a populações especiais;
  • Assegure que os programas de educação, informação e apoio sejam acessíveis durante os períodos de transição da doença;
  • Use a tecnologia para alcançar mais famílias que precisam de educação, informação e apoio.

 
Recomendações de prática para o cuidado de sintomas comportamentais e psicológicos da demência

  •  Identifique características do ambiente social e físico que desencadeiam ou exacerbam sintomas comportamentais e psicológicos para a pessoa que sofre de demência;
  • Implemente práticas não-farmacológicas centradas na pessoa, baseadas em evidências e viáveis ​​dentro do contexto;
  • Reconheça que o investimento necessário para implementar práticas não-farmacológicas difere em cada tipo de cuidado;
  • Sempre procure aderir aos protocolos para garantir que as práticas sejam usadas quando e conforme necessário e sustentadas em cuidados contínuos;
  • Desenvolva sistemas para avaliar a eficácia das práticas e faça as mudanças conforme for necessário.

 
Recomendações de prática para apoio às atividades de vida diária (AVD)

  •  O apoio para as AVD deve levar em conta a atividade, a capacidade funcional do indivíduo e a extensão da deficiência cognitiva;
  • Siga as práticas de cuidados centradas na pessoa ao fornecer apoio para todas as necessidades das AVD;
  • Ao dar apoio para o paciente se vestir, leve em conta a dignidade, o respeito e a escolha, assim como o processo e o ambiente;
  • Ao dar apoio para ir ao banheiro, leve em conta a dignidade e o respeito, o processo de higiene pessoal, o ambiente do banheiro e as condições de saúde e biológicas;
  • Ao dar apoio para comer, pense na dignidade, no respeito e na escolha, assim como no processo das refeições e no ambiente de jantar; leve em conta as condições de saúde e biológicas e faça adaptações, se necessário; verifique a comida, a bebida e o apetite do paciente.

 
Recomendações de prática para a equipe

  •  Forneça um programa completo de orientação e treinamento para os novos funcionários, bem como um treinamento contínuo;
  • Desenvolva sistemas para coletar e divulgar informações centradas na pessoa;
  • Incentive a comunicação, o trabalho em equipe e a colaboração interdepartamental/interdisciplinar;
  • Estabeleça uma equipe de liderança envolvida e solidária;
  • Promova e encoraje um bom relacionamento entre residentes, funcionários e familiares.
  • Avalie sistemas e avance rotineiramente para a melhora contínua.

 
Recomendações de prática para o apoio terapêutico

  •  Crie um senso de comunidade dentro do ambiente de atendimento;
  • Melhore o conforto e a dignidade de todos envolvidos nos cuidados do paciente;
  • Priorize a cortesia, a preocupação e a segurança dentro da comunidade de atendimento;
  • Dê oportunidades de escolha para todos os cuidadores;
  • Dê oportunidades para um envolvimento com um significado maior para todos os cuidadores.

 
Recomendações de prática para as transições dos cuidados

  •  Prepare e eduque pessoas que sofrem de demência, assim como cuidadores e familiares, sobre as possíveis transições entre diversos locais (casa, hospitais, internação);
  • Garanta a comunicação completa de informações entre os locais envolvidos na transição;
  • Avalie as preferências e os objetivos da pessoa que sofre de demência ao longo das transições;
  • Conte com boas equipes colaborativas multiprofissionais para ajudar pessoas que vivem com demência e seus parceiros/cuidadores ao fazer as transições;
  • Utilize modelos baseados em evidências para evitar, atrasar ou planejar as transições.