O envelhecimento populacional e o aumento da longevidade têm provocado impactos nas mais diversas áreas da saúde. Em Ortopedia e Traumatologia, os efeitos já são sentidos pelos profissionais toda vez que um idoso aparece no consultório ou no ambulatório. “O paciente idoso é um compêndio da Medicina”, diz o ortopedista e traumatologista Luiz Fernando Cocco, coordenador do Núcleo de Ortopedia do Hospital Samaritano de São Paulo e médico assistente do setor de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Nesta entrevista, o médico fala sobre as questões relacionadas às doenças degenerativas e aquelas ligadas a traumas e o que tem mudado no olhar do médico ortopedista.
Quais os impactos do envelhecimento populacional e do aumento da longevidade em relação aos problemas ortopédicos?
Temos dois grandes grupos de problemas muito comuns hoje. O primeiro deles são as doenças degenerativas, nas quais o vilão é o avançar da idade. São aquelas que atingem as cartilagens, as artroses, que atingem joelho, tornozelo, quadril e que podem levar a rupturas de tendão. Essa ruptura é comum de acontecer no ombro, as chamadas lesões do manguito rotador, especialmente para os idosos que, durante a vida, tiveram atividade intensa de elevação e rotação do ombro, seja em atividades profissionais ou esportivas. O segundo grupo são as lesões relacionadas a traumas, porque o avançar da idade diminui a capacidade de resposta, reflexo, defesa e equilíbrio. Também deve-se considerar a qualidade visual que diminui, assim como a audição, que pode ficar mais prejudicada. Há mudança no padrão de marcha, que faz com que o pequeno desnível da calçada se torne um desafio para o idoso atravessar a rua. Ele tropeça, cai e as fraturas impactam demais em sua qualidade de vida. Porque são muito diferentes os efeitos de uma queda em um adulto jovem com ossos saudáveis e de um idoso com ossos osteoporóticos.
Esse quadro trouxe mudanças para a rotina e para o olhar do médico ortopedista?
Sem dúvida. Hoje, em alguns serviços, como o do Hospital Samaritano, do qual sou coordenador, já há um setor de trauma especializado no cuidado ao paciente idoso. Isso é necessário, porque o idoso chega para o médico após uma queda, com um trauma, e em uma condição muito adversa. Além da ruptura óssea, tem cardiopatia, é hipertenso, já fez outras cirurgias e está muito debilitado para enfrentar uma intervenção ortopédica desse tipo. A cirurgia, em um caso como esses, é muito agressiva, pois o deixará acamado por longo tempo, o que pode trazer consequências ainda piores, como alterações funcionais na urina, no pulmão, perda do convívio social e outras complicações que podem levar a alterações cognitivas e delirium.
Tudo isso são complicadores para o ortopedista, não?
Sem dúvida. Por isso tem ganhado força a ortogeriatria, a ortopedia geriátrica. Esses médicos olham o paciente para além do trauma. Para um paciente idoso com uma fratura no quadril não bastam radiografias, próteses e hastes. O idoso precisa ser olhado de maneira mais sistêmica. Se é cardiopata, por exemplo, precisa de compensação pós-operatória, porque corre risco de infarto no pós-operatório; antes da cirurgia já programamos reserva de sangue e o controle de sangramento deve ser feito de forma mais criteriosa; às vezes precisa de hemodiálise pós-cirúrgica para possível complicação clínica. O ortopedista tem que estar atento a todo esse preparo diferente, porque a resposta sistêmica do idoso ao trauma é diferente daquela do jovem. Os implantes – órteses, próteses – também já são projetados para o osso osteoporótico, sabendo que a qualidade da fixação deles será menor do que no osso jovem. Essa consciência já está na nossa rotina.
Há muito então a ser considerado antes de levar o paciente idoso para cirurgia…
Sim. A ortopedia geriátrica de qualidade se baseia em um pilar importante: a prevenção. O importante é ele não ter a primeira fratura, porque se sabe que a partir dos 65 anos, após o primeiro episódio de queda, a maioria terá outros. Por isso é essencial que o médico invista tempo conscientizando o paciente da necessidade de adaptar o ambiente social dele. Ele precisa acender o abajur quando for ao banheiro no meio da noite para não tropeçar no chinelo ao lado da cama, tirar o tapete do meio do caminho, colocar o aparelho auditivo para escutar o cachorro chegando e usar os óculos para saber exatamente onde pisa. O idoso não pode cair.
As equipes de ortogeriatria são multidisciplinares?
A nossa equipe, sim, e acredito que todas deveriam ser. Porque o paciente idoso é um compêndio da Medicina. Toda vez que interna um paciente aqui, temos geriatra, endocrinologista, enfermeiras, fisioterapeutas e outros, porque ele precisa de conhecimentos de cada uma das áreas da saúde. O cirurgião ortopédico precisa dessa equipe multidisciplinar.
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