Século XXI, era do consumo consciente ou “consumerismo”. Embora a ideia de consumir apenas o necessário ou que cada indivíduo consuma o que for melhor para si já seja antiga – tem sido divulgada pelo menos desde o final da década de 1980, quando foi popularizada na Inglaterra – o termo agora tem sido aplicado na relação entre pacientes e profissionais de saúde.
Durante o 1º Simpósio Latino-Americano em Experiência do Paciente, evento promovido em junho pelo Hospital Israelita Albert Einstein, um dos palestrantes, o médico Miguel Cendoroglo Neto, diretor médico e superintendente do hospital, dedicou seu tempo de exposição ao conceito de valor da saúde (triple aim) e o consumerismo.
O triple aim (em português, meta tríplice) é um conceito que vem sendo desenvolvido pelo Institute for Healthcare Improvement (IHI), nos Estados Unidos, que engloba: as melhores práticas para permitir o melhor cuidado individual, a melhoria da saúde das populações e a otimização dos custos da saúde. Dessa maneira, seria essa meta tríplice o que organizações governamentais e privadas de saúde devem buscar para atender a esse novo perfil de paciente. “O paciente passa a ser um consumidor da saúde, com maior acesso à informação, mais engajado e influenciador, com maior conhecimento sobre sua saúde e opções de tratamento e com melhor capacitação para seu autocuidado”, disse Cendoroglo Neto em sua exposição. O livro, “Buscando o triple aim na saúde”, de Maureen Bisognano e Charles Kenny (Editora Atheneu), foi publicado em português em 2015.
O artigo Consumer-driven Health Care: Promise and Performance, escrito por James C. Robinson e Paul B. Ginsburg, da Universidade de Berkeley, e publicado no ano de 2009 pela revista Health Affairs, é considerado um dos marcos críticos a respeito desse novo perfil de paciente e suas consequências para o mercado da saúde em diversos aspectos. Do ponto de vista das opções de tratamento, ele aponta que o futuro deve ser baseado na escolha do paciente, desde que ele esteja munido de informações consistentes e bem orientado. “O paciente empoderado pelo conhecimento não vê mais o médico como patrão, como aquele que manda no tratamento”, afirmou o médico.
No entanto, se nem sempre médicos estão certos quando não incluem o paciente na tomada de decisões, tampouco está correto deixá-los tomar livremente as rédeas do tratamento. “Há que se criar modelos de decisão compartilhada”, foi a sugestão de Cendoroglo.
Nos consultórios geriátricos ainda é comum que o cuidador ou acompanhante assuma mais o papel de liderança do que o paciente. A previsão, no entanto, é de que as futuras gerações na terceira idade tornem-se cada vez mais empoderadas, já que são adultos que têm a internet como consultora e fonte de informações.
“Eu oriento meus pacientes que eles podem, sim, pesquisar no Google, mas que eles precisam ter consciência de que a maior parte das informações não tem curadoria, qualquer pessoa pode publicar qualquer coisa”, explica o geriatra Carlos André Uehara, diretor do CRI Norte. “Antes as pessoas perguntavam para os familiares e amigos, hoje têm toda a rede para consultar”.
O melhor, nesse caso, é que o paciente saiba diferenciar a qualidade da informação que está acessando. “Eu peço a eles que consultem sites que trazem informações para leigos, mas que são de boa qualidade, com conteúdo médico correto”, explica.
Para além da questão da busca por informação, do outro lado da mesa, o médico também precisa se acostumar a lidar com essa nova geração. “De maneira geral, médicos e outros profissionais da saúde não estão preparados para isso, tampouco a formação nas faculdades tem abordado essa mudança”, diz o geriatra. “As pessoas se formam achando que são os portadores da informação e não sabem o que fazer ao serem questionados pelo paciente. E cada vez mais precisamos estar dispostos a escutar e a conversar com paciente e acompanhante ou a experiência da consulta vai ser ruim para os dois lados”, afirma.
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