O que é ser velho? Quando ficamos velhos?

Screen Shot 2016-08-02 at 14.58.06O apogeu do indivíduo é situado por sábios, filósofos e escritores como sendo a metade da vida. Segundo Hipócrates, esse ápice é atingido aos 56 anos. Para Aristóteles, a perfeição do corpo se completa aos 35 anos; a da alma, aos 50. De acordo com Dante Alighieri, chega-se à velhice aos 45 anos.
Saindo das percepções filosóficas e poéticas e adentrando a era industrial, chegamos à França do século XIX, em que o termo vieux indicava pessoas que não podiam assegurar o seu futuro financeiro e não possuíam status social. Já a expressão personne âgée definia os idosos como aqueles bem-colocados socialmente.
Com as diversas políticas sociais, o velho passou a ter mais benefícios, por meio de pensões e aposentadorias, o que aumentou seu prestígio na sociedade. Assim, surgiu a expressão “terceira idade”, indicando um envelhecimento ativo e independente.
No Brasil, entretanto, não existem qualificações para tais expressões e a ausência dessa classificação deixa claro o estigma da velhice como sinônimo de fragilidade, decadência e dependência do ser humano. Levantam-se a partir daí questionamentos como “O que é ser velho?” ou “Quando ficamos velhos?”.
Ser velho é a somatória de fatores biológicos, sociais e subjetivos, elementos responsáveis pela peculiaridade de cada idoso. Logo, o idoso não se resume somente a seus anos de vida (cronos = tempo cronológico). Ele é a conquista de tudo que realizou durante esses anos (kairós = momento indeterminado no tempo, pois esse é subjetivo).
Para garantir seus direitos, pensionistas e idosos vinculados à Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (COBAP), Movimento de Servidores Aposentados e Pensionistas (MOSAP), representantes da Associação Nacional de Gerontologia (ANG) e de diversas seções estaduais, de representantes da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), de representantes religiosos, em especial, da Pastoral Nacional e pastorais de diversos estados e de federações e associações de aposentados se mobilizaram para que fosse votada no Congresso Nacional a regulação dos direitos das pessoas idosas em múltiplas esferas e dimensões. O Estatuto do Idoso foi sancionado em 2003 (Lei no 10.741/2003) e entrou em vigor em 1º de janeiro de 2004 (Brasil, 2003).
A peça legal do estatuto apresenta muitas leis e políticas previamente aprovadas, mas também incorpora novos elementos e enfoques, conferindo um tratamento integral ao estabelecimento de medidas de longo prazo voltadas para o bem-estar dos idosos. Esse instrumento conta com 118 artigos que abordam diversas áreas dos direitos fundamentais e das necessidades de proteção dos idosos, com o objetivo de reforçar as diretrizes contidas na Política Nacional do Idoso, muitas já asseguradas pela CF/1988.
Os principais direitos estabelecidos são: direito à vida, à proteção, à saúde, ao trabalho, à previdência social, à educação, à cultura, ao lazer, à moradia e ao voto.
Essa peça legal passa a valer assim que o indivíduo atinge os 60 anos. No entanto, é importante destacar que a velhice é uma fase bastante longa da vida, durando cerca de 23 anos. É um período maior que a infância e a adolescência juntas e, por isso, fala-se de idosos com 60, 70, 80, 90, 100 anos. Trata-se de um grupo extremamente heterogêneo, com necessidades distintas.
Portanto, o idoso brasileiro não existe. Existem sim, “várias realidades de velhice referenciadas a diferentes condições de qualidade de vida individual e social”.
Referências bibliográficas:
1. Beauvoir S. (1990). A velhice. Trad. Maria Helena Franco Martins. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
2. Freitas TM. et al. (2006). Idosos e família: asilo ou casa. Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 13.
3. Neri, A. L. (Org.). Qualidade de vida e idade madura. Campinas: Papirus, 1993.
4. Camarano, A. A.; Pasinato, M. T. O envelhecimento populacional na agenda das políticas públicas. In: Camarano, A. A. (Org.). Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro: Ipea, 2004.
 
 
Gislaine Gil
Neuropsicóloga pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Mestre em Gerontologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Título de especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).