Uma característica comum apresentada por quem desenvolve a doença de Alzheimer é começar a guardar coisas em locais inusitados e depois não encontrá-las. Comumente, os familiares e cuidadores dizem que a pessoa está escondendo coisas, mas nem sempre é essa a intenção.
A terapeuta ocupacional Tatiana Couto, da área de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual e presidente da Associação de Terapia Ocupacional do Estado de São Paulo (Atoesp), explica que isso acontece porque o Alzheimer faz com que a pessoa “desaprenda” a identificar os objetos, dar sentido a eles e saber onde guardá-los adequadamente.
O resultado disso são chave no freezer, dinheiro no armário da cozinha e outras situações do tipo. “Reconhecer o que são e para que servem os objetos é um aprendizado que temos ao longo da vida. O Alzheimer faz com que o aprendizado se vá”, diz Tatiana.
Em situações em que a pessoa com Alzheimer ou outro tipo de demência entra em delírio – o que é bastante comum -, ela pode acreditar que está sendo ameaçada ou que alguém quer roubá-la. E para evitar isso, guarda o objeto ou dinheiro com o objetivo de protegê-lo. No entanto, depois de um tempo a pessoa já não consegue mais lembrar onde foi que guardou. “Essa é uma situação muito comum relatada por pacientes e familiares”, conta a especialista.
Sinais como esses não indicam, no entanto, que a doença progrediu ou atingiu um estágio mais grave. “Os sintomas psicológicos e comportamentais estão presentes desde as fases leves até as mais avançadas, e flutuam ao longo dos estágios da doença”, explica. Segundo ela, a pessoa conseguir contar – ainda que posteriormente – que guardou algo, que desconfia que está sendo roubada ou que não está mais encontrando um objeto é um sinal positivo, por mais difícil que seja para a família. “Na fase mais avançada da doença, o paciente perde parte da capacidade de linguagem e já não consegue mais contar que alguém o roubou ou escondeu algo, porque não sabe mais que fez isso”.
Para as famílias e cuidadores, por mais complicado que seja lidar com essas situações, há algumas estratégias que podem ajudar. Veja quais são:
- Não crie stress por isso. É um problema devido à doença de Alzheimer. Então evite brigar com o familiar que está passando por isso, pois ele não tem culpa.
- Não deixe com essa pessoa objetos de valor, grandes quantias em dinheiro, coisas de valor sentimental ou documentos importantes. Faça cópias de documentos para que não haja grandes consequências caso a pessoa os perca ou esconda.
- Incentive a família a criar locais para guardar cada coisa e mantê-la em seu lugar. Por exemplo, um lugar para deixar a chave da porta depois que trancá-la; uma mesinha ao lado do sofá e da cama para deixar os óculos e etc. Quem tem o hábito ao longo da vida de manter as coisas guardadas em seus lugares tende a mantê-lo mesmo ao desenvolver demência.
- Preserve a independência do parente com Alzheimer no que for possível. Se ele consegue trocar de roupa sozinho e se alimentar, não faça isso por ele. Evite que ele desaprenda coisas.
- Sempre que possível, esteja cercado por uma equipe de cuidados de saúde multidisciplinar. Cada um com seu conhecimento certamente contribuirá mais para alongar as fases iniciais e moderadas da doença, postergando a avançada.