O que todo geriatra precisa saber sobre cuidados paliativos

Nurse holding older man's handO termo paliar significa proteger. Sua origem é latina e remete aos mantos que os antigos viajantes usavam nas estradas para protegerem-se de intempéries da natureza durante o caminho.
Derivado desse termo, os chamados cuidados paliativos são uma modalidade terapêutica que tem entrado em evidência tanto entre o público leigo como entre os profissionais da saúde. Embora cada vez mais popular nas discussões médicas, ainda demanda muita reflexão por parte dos profissionais.
Para evitar sofrimentos e intervenções desnecessárias, é fundamental para os profissionais de saúde que lidam com pacientes com doenças que ameaçam a vida – em especial os geriatras e especialistas em gerontologia – conhecer profundamente cuidados paliativos.
“O geriatra deve ter 100% de mortalidade na carteira de pacientes, pois é sinal de que os acompanhou até o fim da vida”, diz a geriatra e paliativista Ana Beatriz di Tommaso, vice-presidente da SBGG-SP. “Se o paciente chegar ao fim da vida e decidir que o geriatra não é bom o suficiente para ser seu médico, algo está errado.”
A geriatra lembra que, se antes o oncologista era o “especialista” em cuidados paliativos, hoje o geriatra, graças à maior longevidade da população, também se depara com doenças crônicas sem cura que são potencialmente terminais, como as demências e outros comprometimentos cognitivos, condições cardíacas e pulmonares, bem como a fragilidade.
Os cuidados paliativos garantem uma melhor experiência em situações de doenças potencialmente letais. Uma revisão da literatura mostrou que pacientes que têm um plano antecipado de cuidados – que vai muito além das diretivas antecipadas de vontade e envolvem uma discussão mais ampla dos cuidados entre paciente, família e equipe – têm um final de vida com mais qualidade, com vontades e desejos claramente expressos e respeitados.
Aos poucos, as equipes de saúde começam a incorporar os cuidados paliativos em suas rotinas. Um estudo publicado no Journal of The American Osteopathic Association por pesquisadores da University of Medicine and Dentistry de New Jersey mostrou que apenas 19% dos médicos entrevistados disseram não conversar sobre cuidados avançados e paliativos com seus pacientes com Alzheimer moderado, nem com os familiares. Isso se refletiu nas famílias e nos pacientes: das famílias que tiveram o entendimento da demência como uma condição terminal, o conforto do paciente foi mais bem gerenciado do que o daqueles cujas famílias não entenderam a demência como terminal.
“Precisamos conhecer profundamente as doenças que fazem parte da nossa rotina profissional para sabermos o que tem cura ou não, o que é sinal de finitude e em que fase está aquele paciente”, diz a médica. Isso é de grande importância, segundo a médica, porque apenas o conhecimento dos sintomas e do curso das doenças pode determinar o melhor tratamento pensando no bem-estar do paciente e dos familiares, sem sofrimento desnecessário para todos.