Os estudos que relacionam o jejum à longevidade

jejum-intermitenteEm 2016, o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia foi para o médico Yoshinori Ohsumi, que desvendou os processos da autofagia e trouxe à tona a discussão se o jejum seria benéfico à saúde e teria algum efeito na longevidade.
A nutricionista Flávia K. Fonte, da InterAção, especialista em gerontologia pela SBGG e colaboradora do AME Idoso Sudeste, explica que o termo autofagia significa “comer a si mesmo”. No caso, as células usariam como fonte de energia seu próprio conteúdo envelhecido para se renovar quando lhes faltasse substrato energético (proveniente da alimentação). Assim, esse processo teria duas funções: uma, de destruir componentes que já não funcionam de forma correta e que poderiam gerar doenças e, a outra, de produzir energia a partir dessa reciclagem.
“O estudo foi realizado em leveduras e mostrou que a autofagia está associada com o aumento da longevidade desse organismo, e que a privação de energia, ou seja, o jejum, é uma forma de ativação”, diz a especialista.
O metabolismo de jejum se inicia depois do período de 5 a 6 horas sem comer, e pode ser intercalado com períodos de ofertas de alimentos. Há diversas formas de jejum sendo estudadas, mas Flávia ressalta que a maioria das pesquisas é realizada em modelos animais, em que é ofertado um certo volume de alimentos ou calorias. Em humanos, estudos iniciais foram feitos com jovens. “Entre idosos, normalmente são apontados alguns casos bem específicos de populações com algum costume de jejum parcial, por isso é preciso muito cuidado com as generalizações”, explica.
A discussão em torno do jejum
Estudiosos afirmam que privar indivíduos de calorias faria com que eles usassem os próprios estoques de energia e reduzissem gordura corporal, glicemia, colesterol, e então diminuiria a chance ou a incidência de síndrome metabólica e doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer. Isso preservaria as células, permitindo que vivessem por mais tempo, de forma menos desgastável. Isso se refletiria na saúde, permitindo uma maior longevidade.
Mesmo nos estudos com animais, alguns pesquisadores observaram que, ao liberar a ingesta calórica pós jejum, eles consumiam de forma exagerada – o mesmo que costuma ser observado entre humanos.  A nutricionista cita um estudo publicado no JAMA [Trepanowski et al. JAMA Intern Med. 2017;177(7):930-938] com um modelo controlado com humanos, em dois grupos: um alternando com restrição calórica severa em um dia e no dia seguinte consumo livre, e o outro grupo com restrição calórica todos os dias, por 6 meses. Ao final do período ambos os grupos tiveram a mesma restrição em calorias, e não houve diferença nos resultados, mostrando que o que importa é a restrição calórica em si, não a maneira como é realizada.
”Ainda neste estudo, após o período de 6 meses, os participantes foram liberados com a orientação de manterem a restrição calórica e comparecerem a encontros mensais por mais 6 meses com os pesquisadores. No final foi observado que todos os indivíduos tiveram ganho de peso novamente”, conta a nutricionista.
Para ela, a partir dos estudos é possível entender que a restrição calórica pode ser benéfica ao reduzir peso, melhorar a qualidade de vida e diminuir a incidência de doenças –  e, assim, espera-se que se prolongue a vida. ”No entanto, manter esse hábito é ainda um grande desafio, e ao se retornar aos antigos hábitos alimentares, é esperado que todas as condições anteriores retornem também”, afirma.