Os sintomas do idoso com covid-19 nem sempre são os mesmos dos adultos em outras faixas etárias. Para discutir isso, na terça-feira, dia 5 de maio, teve início a série de webinar realizada pela SBGG-SP com apoio da Academia Danone. O primeiro teve o título de “particularidades no diagnóstico e tratamento do idoso com covid-19” e foi apresentado pelo geriatra Milton Luiz Gorzoni, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo com moderação do geriatra Marcelo Valente, presidente da SBGG-SP.
Gorzoni começou falando sobre as quatro maiores preocupações em relação aos idosos, não apenas em épocas de covid-19, que são a dinâmica familiar (se ele vive sozinho e se recebe acompanhamento de um familiar), as condições das instituições de longa permanência, a inclusão social do idoso e a demanda versus a situação do sistema de saúde.
“No difícil equilíbrio que estamos vivendo agora, com alta demanda no sistema de saúde, temos de ressaltar que não se deve pensar que só por ser idoso o paciente deve ir direto para cuidados paliativos, que não há o que se fazer por ele, já viveu bastante e tem de dar oportunidades para outros. Há que se considerar sua expectativa de vida e sua condição geral de saúde”, afirmou.
Na China, segundo estudo apresentado pelo especialista, o perfil com mais óbitos foram os idosos do sexo masculino, hipertensos e/ou diabéticos.
Em relação aos sintomas, Gorzoni apresentou dados compilados no artigo Clinical Features of COVID-19 in elderly patients: a comparison with Young and middle-aged patients, escrito por médicos do Hainan General Hospital, da China, publicado no Journal of Infectology. O estudo evidencia que os idosos com covid-19 apresentaram menos sintomas típicos como tosse e febre. “O idoso expectora menos porque tem dificuldade pela própria condição física de sua caixa torácica; menos febre porque não produz bem interleucina, assim como não tem calafrios porque possui menor massa muscular”, explica. Por conta disso, pela falta de sintomas, é comum que o idoso busque auxílio médico ou hospitalar quando a pneumonia já está em estado mais avançado. “Acaba falecendo por chegar mais grave aos cuidados médicos”, diz Gorzoni.
Mostrou ainda o artigo Mimics and chameleons of covid-19, publicado no periódico Swiss Medical Weekly, que descreve o caso clínico de um homem, 83 anos, levado ao hospital por queda com trauma na região do tórax. Na tomografia, ficou evidente o padrão de vidro fosco nos pulmões, ainda que clinicamente ele não apresentasse tosse, nem febre. Exame para covid-19 foi positivo. Comparativamente, o estudo traz o caso de uma mulher, 80 anos, com dispneia e tosse, levada ao hospital por uma ILPI (instituição de longa permanência para idosos) onde já havia casos confirmados de outros residentes com covid-19. No entanto, os exames indicaram uma insuficiência cardíaca descompensada, negativo para covid-19. “Ou seja, no idoso a queda pode ser sinal de covid-19. E nem todo idoso com dispneia e tosse será positivo para a doença”, disse o geriatra.
“Também é preciso prestar atenção às manifestações neurológicas no idoso. Cerca de 36,4% de idosos com covid na China apresentaram alterações desse tipo, como AVC e delirium, principalmente aqueles com covid-19 grave, comorbidades e poucos sinais típicos da doença”, explicou. Dessa forma, a recomendação do geriatra para os médicos é, ao receber um paciente com AVC, já que ele passará por uma tomografia de praxe – para investigar se o AVC foi hemorrágico ou transitório – vale a pena fazer também imagens do tórax para investigar covid.
Outra recomendação importante que ele deu aos geriatras foi sobre como orientar os pacientes idosos em caso de suspeita de covid. “Sabemos que não está fácil conseguir exames para detectar a doença e, em alguns casos, o preço é proibitivo ou o resultado demora a sair. Então se houver suspeita, peça para medir Dímero D, ferritina, troponina, interleucina-6 e o DHL (desidrogenase láctica) que se mostraram muito altos entre os pacientes que foram a óbito, bem como os linfócitos, que se apresentaram em queda”, disse. “Nesses casos, a imunossenescência acaba falando mais alto de forma negativa”, completou.
Em relação ao tratamento, Gorzoni mostrou dados apontando que houve alto índice de óbitos hospitalares entre idosos que fizeram uso de hidroxicloroquina e azitromicina, pois apresentaram alterações eletrocardiográficas. Por outro lado, apresentou como boa notícia uma pesquisa mostrando que não há complicações na covid-19 ou maior risco de morte entre hipertensos que fazem uso de inibidores da ECA (enzima conversora de angiotensina). “Portanto, não se deve parar o tratamento da hipertensão”, defendeu.
Para assistir ao webinar completo, acesse aqui.
O próximo webinar será na terça-feira, dia 12, às 19h. O tema é “Distanciamento social: como realizar e como minimizar seu impacto entre os idosos?”. Os participantes serão o fisioterapeuta Tiago Alexandre, presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG-SP, e a terapeuta ocupacional Carla Santana, docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Para assistir, acesse aqui.
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