Dra. Juliana Venites
Graduada pela Universidade São Camilo. Especialista em gerontologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Especialista em motricidade orofacial pelo Conselho Federal de fonoaudiologia. Mestre em Ciências pelo Departamento de Reabilitação da Unifesp e doutora em Ciências pelo Departamento de Distúrbios da Comunicação Humana da mesma universidade. Membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Seção São Paulo

O aparecimento da disfagia é esperado na demência de Alzheimer. Todavia, o acompanhamento fonoaudiológico acontece ainda tardiamente, na maioria das vezes quando evidentes sinais clínicos de broncoaspiração já estão instalados.
A investigação da performance alimentar deve estar presente nas anamneses de médicos, enfermeiros, nutricionistas e fisioterapeutas.
A tabela a seguir descreve os sinais e sintomas que podem indicar a presença da disfagia, mesmo antes da ocorrência de broncoaspiração ou da perda de peso:

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Monitorar o aparecimento dos primeiros sintomas da disfagia e realizar o encaminhamento para a fonoterapia pode prolongar a boa performance alimentar, evitando sempre que possível a utilização de vias alternativas de alimentação, já que não há evidências científicas de que este uso aumenta a sobrevida ou previne a broncoaspiração.
É necessário ressaltar que encaminhar o paciente para a fonoterapia não significa submetê-lo a mais um tratamento prolongado ou oneroso. Se realizado no momento correto, ela pode envolver o estabelecimento de uma linha de cuidados alimentares que vão garantir sua melhor performance de deglutição.
Há dois importantes focos estabelecidos para essa linha de cuidados:
Foco na alimentação
1. Determinação da via alimentar
Os dados da avaliação fonoaudiológica fornecerão condições para que o fonoaudiólogo determine a via alimentar do paciente, podendo ser:
– oral
– enteral: sonda nasoenteral ou gastrostomia
– mista: utilização de ambas as vias quando existe ingestão insuficiente ou durante o início da reabilitação
2. Determinação da consistência da dieta
Ao fazer a opção pela via oral ou mista, deve-se em seguida determinar a consistência da dieta a ser oferecida diante de seu desempenho na avaliação clínica funcional.
– Dieta geral: alimentos em todas as consistências, com grande demanda mastigatória
– Dieta branda: alimentos mais amolecidos, com demanda mastigatória moderada
– Dieta pastosa: alimentos bastante amolecidos e bem cozidos, com pouca demanda mastigatória
– Dieta pastosa geriátrica: alimentos em consistência de purê, sem demanda mastigatória
Foco no cuidado
1. Posicionamento para receber a dieta:
Deve ser sentado (cadeira ou leito) a 90º. Para tanto, o paciente necessita de:
– Auxílio total
– Auxílio parcial
– Nenhum auxílio
2. Dependência alimentar:
– Alimentação com assistência total: não leva o alimento à boca; o mesmo precisa ser oferecido
– Alimentação com assistência parcial: necessita apenas que sirvam a mesa. Consegue separar o bocado e levá-lo à boca
– Alimentação sem assistência: não necessita de nenhum auxílio.
3. Higiene oral:
Evita infecção por colonização de bactérias, assim como a aspiração de partículas de alimentos.
– Higiene realizada pelo próprio paciente, sem nenhum auxílio
– Higiene realizada pelo próprio paciente, com auxílio de um cuidador ou profissional
– Higiene realizada pelo cuidador ou profissional. O paciente não tem nenhuma participação.
4. Terapia fonoaudiológica:
Envolve múltiplas ações, que podem ser divididas em dois grupos:
4.1- Terapia Indireta: são técnicas que não envolvem o oferecimento do alimento. Visam à melhora da mobilidade e tonicidade da musculatura envolvida na deglutição, utilizando apenas estímulos gustativos e a deglutição da saliva.
4.2- Terapia Direta: consiste na aplicação de técnicas com o oferecimento do alimento que visam treinar ou compensar a eficiência da deglutição.
O estabelecimento precoce desta linha de cuidados associado a orientação constante da família e do cuidador garantirá a melhor performance alimentar durante o percurso da demência de Alzheimer, evitando a utilização de vias alternativas de alimentação, a broncoaspiração e a desnutrição, contribuindo evidentemente para a qualidade de vida do paciente.
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