Outubro é o mês do idoso e uma série de eventos foram realizados ao longo desse período em todo o país para celebrar a longevidade e, também, conscientizar a população em geral a respeito dos temas acerca do envelhecimento.
Na hora de fazer um balanço sobre a atual situação do envelhecimento no Brasil, a assistente social Naira Dutra Lemos, especialista em Gerontologia, coordenadora do Programa de Assistência Domiciliar ao Idoso e do Ambulatório para Cuidadores da Unifesp – (Universidade Federal de São Paulo), se diz otimista. “Para mim, os maiores desafios que os idosos enfrentam hoje têm relação com o preconceito e a dificuldade que as pessoas têm de lidar com os mais velhos, e isso inclui violência e maus tratos, entre outros aspectos”, diz.
Os dados do Disque 100, serviço do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, mostram 37.454 denúncias de violência contra idosos em 2018, um aumento de 13% em relação ao ano anterior. O levantamento aponta que 52,9% dos casos são cometidos pelos filhos, seguidos de netos (7,8%). As mulheres são as principais vítimas (62,6% dos casos), sendo a faixa etária de 71 a 80 anos a que registra maior porcentagem (33%). O local de maior violação dos direitos e de ocorrência de violência é a casa da vítima – 85,6% dos casos acontecem no próprio lar.
As violações mais recorrentes são as negligências (38%), violência psicológica (26,5%), abuso financeiro e patrimonial (19,9%), e agressão física (12,6%). A Ordem dos Advogados do Brasil seção São Paulo divulga que 3,5% dos óbitos de idosos são por violência e acidentes, a sexta maior causa de mortalidade. Os homens são as principais vítimas (66% dos casos).
Já em relação aos cuidados para saúde, Naira faz a distinção entre a oferta dos serviços do Sudeste e as demais regiões do país. “Houve uma melhora muito grande, mas posso dizer isso em relação ao Sudeste, pois sei que a realidade em outros locais do Brasil é diferente, o acesso não é universal”, afirma. “O problema de moradia também não é exclusivo dos idosos. É uma questão que envolve toda a população”, diz a especialista.
O preconceito etário – ou ageísmo, termo usado por muitos – é, portanto, algo que Naira vê como uma grande barreira à qualidade de vida dos idosos. “Nós, profissionais dedicados a essa população, precisamos publicizar à sociedade uma outra imagem do idoso, desmistificada. O idoso não é sempre dependente, que não sabe o que quer, não sabe seus direitos. São muitos os perfis”, explica Naira. “Também temos de orientar os idosos sobre as políticas públicas e incentivá-los a participar de movimentos que abordem e fortaleçam o papel dele no Brasil. Isso é algo que nos cabe”, afirma.
Naira vê de forma esperançosa o aumento no número de profissionais que se dedicam a trabalhar com o público idoso. “Comecei a trabalhar com essa população há mais de 40 anos, e vejo de forma muito positiva o crescimento de profissionais na área. Isso mostra mobilização para que as coisas que não estejam satisfatórias mudem”, considera.
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