Violência contra o idoso

hand-141669_960_720A data de 15 de junho foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa. O objetivo é alertar a sociedade sobre o número crescente de maus tratos cometidos contra a população da terceira idade.
No Brasil, a cada hora, pelo menos dois idosos sofrem algum tipo de violência. Em um ano, segundo levantamento da Secretaria dos Direitos Humanos do Governo Federal, o número de registros de casos de negligência e violência contra idosos cresceu 16% no país.
Em 2016, de janeiro a junho, o Disque 100, número gratuito que recebe denúncias contra violações de direitos humanos, recebeu mais de 16 mil denúncias de violência contra pessoas com 60 anos ou mais. No mesmo período do ano passado foram registradas quase 14 mil denúncias. Em 70% dos casos, o agressor é o próprio filho e a maioria das vítimas são as mulheres, com 60,3% dos casos. Quebrar o laço familiar é, porém, um desafio para as vítimas, que se calam diante do problema. “O idoso tem muita vergonha de dizer que sofre violência dentro de casa, que alguém de sua família cometeu uma agressão. Ele se sente humilhado”, explica Mariela Besse, terapeuta ocupacional especialista em Gerontologia e coordenadora do Departamento de Gerontologia da SBGG-SP.
Além disso, se o idoso depende da família, ele pode denunciar a violência, mas tem problemas em romper com o familiar agressor. Talvez por esse motivo, 90% das denúncias de maus tratos são anônimas. Ainda segundo dados do Disque 100, em 2014, houve 27.178 denúncias de abusos contra a pessoa idosa. As mais recorrentes são de negligência, 20.741 denúncias (76,32%), violência psicológica, 14.788 (54,41%), abuso financeiro e econômico, 10.523 (38,72%), violência física, 7.417 (27,29%) e violência sexual, 201 denúncias (0,74%).
Diante do grande escopo de violência ao idoso, é essencial o papel do profissional de saúde para reconhecer o problema em seu paciente. “As marcas da violência no idoso são diferentes daquelas da criança, porque um hematoma no braço pode aparecer porque um medicamento que ele toma altera a capilaridade do vaso e, ao esbarrar em um vaso, fica facilmente roxo”, explica Mariela. “Por esse motivo, só o hematoma não é um sinal 100% seguro de violência, por isso a questão é tão polêmica”. Portanto, no caso da violência física, o médico precisa ficar atento à frequência e à quantidade de hematomas e, se necessário, pedir um raio-x para verificar se há ossos quebrados.
Outra dica para perceber se o paciente está sofrendo alguma agressão é pelo comportamento. “Se o idoso estiver mais ansioso que o normal, não responder a perguntas e, ao invés disso, direcionar o olhar para o familiar ou cuidador, pode ser um sinal de que a relação não está saudável”, diz a especialista. Há, no entanto, outros tipos de violência que não deixam marcas no corpo, como a exploração financeira sofrida pelo idoso e a violência psicológica, por meio da qual o idoso é manipulado e controlado por alguém da família ou cuidador. “Esse tipo de problema é difícil de ser percebido e apenas alguém com um vínculo muito forte consegue perceber. Por isso, o ideal é que o profissional de saúde, ao perceber a possiblidade de que o paciente esteja passando por algum tipo de violência, chame mais familiares e amigos do idoso para conversar e verificar a percepção dessas pessoas em relação ao idoso”, orienta Mariela.
Outras informações relevantes
(Fonte Dra. Renata Salles, geriatra e presidente da SBGG-SP)
O RECONHECIMENTO DA VIOLÊNCIA É MUITO DIFÍCIL, POIS:

  • A vítima fica normalmente envergonhada ou receosa em admitir que sofre abuso de um parente;
  • O isolamento da vítima idosa é comum, sendo uma barreira para detecção ou déficit cognitivo.
  • Sentimento de culpa: Não fui um bom pai ou uma boa mãe…
  • Não sabem onde buscar ajuda, ou pensam que ninguém acreditará na sua palavra.
  • Temem represálias dos cuidadores por notificar as autoridades (aumento da violência, institucionalização, perda da liberdade)
  • A falta de protocolos e abordagens definidas para tratar o idoso vítima de abuso, contribui com a pouca prática de detecção, diagnóstico errado e estratégias de intervenções limitadas.
  • “Conspiração do silêncio…”

 
As cinco principais teorias mais frequentes para explicar o abuso dos idosos
1. Estresse do cuidador
2. Psicopatologia do abusador
3. Dependência – tanto das pessoas que praticam o abuso quanto da vítima para com o cuidador
4. Isolamento
5. Violência transgeracional
Perfil da vítima:

  • Mulheres, brancas, viúvas e sem rendimentos suficientes para viver de maneira independente
  • Dependência física do cuidador para execução das atividades diárias
  • Apresenta déficit cognitivo ou depressão

 
Perfil do abusador:

  • Frequentemente é um parente da vítima, aproximadamente 40% são cônjuges e 50% são filhos ou netos.
  • Vivem no mesmo domicílio
  • Apresenta transtorno mental, abuso de álcool, dependência química
  • Estresse do cuidador. Problemas conjugais, desemprego, dificuldades financeiras, isolamento social são freqüentemente estressores que desencadeiam comportamentos de desespero no cuidador.
  • Conflito relacional prévio com a pessoa idosa.
  • Filho menos integrado socialmente é aquele ao qual provavelmente será dada a responsabilidade de cuidador.