Dificuldades das pessoas idosas LGBTQIA+ nos serviços de saúde

O envelhecimento é um processo natural que envolve todos nós. Todos têm direito a uma terceira idade saudável, digna e com respeito, por isso, precisamos falar mais sobre as Velhices LGBT+.

O que muitos ainda não veem – ou não fazem questão – é que as pessoas idosas LGBTQIA+ existem e merecem ser tratadas com respeito. É necessário que os profissionais de saúde (e toda a sociedade) enxerguem esta realidade, contribuindo para reduzir as diferenças e melhorar o acesso dessas pessoas aos serviços de saúde. Precisamos compreender suas particularidades e respeitá-las, apoiando iniciativas de visibilidade e representatividade que sejam dignas às Velhices LGBT+.

Conversamos com o médico geriatra Dr. Milton Crenitte – coordenador do Ambulatório de Sexualidade da Pessoa Idosa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) sobre as maiores dificuldades encontradas pelas pessoas idosas LGBTQIA+ e como melhorar o atendimento médico desses pacientes, reduzindo as desigualdades no acesso aos serviços de saúde:

Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelas pessoas idosas LGBT+ nos serviços de saúde do nosso país? (H2)

Dr. Milton Crenitte – Uma das principais dificuldades é o acesso à saúde, que em nosso país é muito desigual, marcado por diferenças relacionadas à raça, classe e à LGBTfobia. As pessoas da comunidade LGBTQIA+ enfrentam barreiras de acesso à saúde. As consequências disso são menor realização de exames preventivos, pior controle de algumas doenças crônicas e maiores dificuldades na promoção do envelhecimento ativo. Outras dificuldades que as pessoas idosas LGBTQIA+ encontram são respeito à sua identidade, reconhecimento e sensação de liberdade com os profissionais de saúde.

Em relação ao atendimento a essas pessoas, já tão estigmatizadas pela sociedade, o que o senhor sugere aos médicos geriatras? (H3)

Dr. Milton Crenitte – Para pensarmos em um mundo mais acolhedor e em serviços de saúde mais acolhedores, temos que pensar em ao menos 3 ações: primeiro, melhorar a forma como compreendemos as particularidades de saúde da população LGBTQIA+. Sugiro aos médicos geriatras e especialistas em gerontologia que se informem, pesquisem, procurem influenciadores sobre o tema para que não cometam nenhum erro de identidade, de pronome, sobre relações.

Outra coisa que podemos fazer em todos os serviços que os médicos geriatras e especialistas em gerontologia atuam é tornar esses cenários mais acolhedores, seja com um símbolo, uma bandeira do arco-íris no jaleco, alguma figura na sala de espera que dê representatividade às pessoas LGBTQIA+ (além de pessoas brancas heterossexuais), nos formulários, nos banheiros destes lugares. Temos que mudar os profissionais, os ambientes e trabalhar também por algumas questões da predisposição do ambiente – do racismo, do preconceito de classe e das melhores condições em relação à saúde pública.

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